Os idiosofemas do Salazarismo

Autores

  • Norberto Ferreira da Cunha

Resumo

Não tem por objecto este artigo, saber como Salazar (ou outros por ele ou em nome dele) resolveram, em concreto, os problemas do País. Poder-se-á dizer - o que é verdade - que, deste modo, nos furtamos a abordar a realidade conforme o salazarismo, de facto, a foi construindo. Efectivamente, não abordaremos o processo de produção social dessa realidade, mas apenas como foi concebida e representada pelo seu principal protagonista. Poder-se-á perguntar - e pertinentemente - se as concepções da realidade histórica (e do seu devir) daqueles que as elaboram e protagonizam, também, fazem parte dela; como será pertinente perguntar-se porque restringimos a nossa análise dessa realidade a um só dos seus protagonistas. A realidade histórica, a meu ver, não se esgota nas esferas do social e do factual. A história é também uma história dos conceitos e das concepções dos sujeitos que nela intervêm e das suas relações intersubjectivas. São estas relações que "objectivam" a realidade, outorgando-lhe, contraditoriamente, quer um dinamismo, aparentemente, autodeterminante, quer, simultaneamente, uma autonomia, aparentemente, ontológica. E tudo isto "gateado" (para usar linguagem de pedreiro) por conceitos e concepções. Neste processo dialéctico de objectivação, a realidade histórica, é, em certas circunstâncias - no caso dos regimes autoritários - frequentemente, determinada pelo seu principal protagonista. A história de muitos é, neste caso, a história - pelo menos no plano da normatividade política - que um só quer e determina. E, por isso, nos circunscrevemos a Salazar.

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Publicado

2019-10-11

Edição

Secção

30 anos do legado do Comendador Nogueira da Silva