Eça de Queirós e Antero, amigos. O diálogo fecundo de dois génios

Autores

  • Lúcio Craveiro da Silva Universidade do Minho

Resumo

Foi Eça que descobriu Antero pela primeira vez e esse encontro, cheio de admiração e arroubo, revelou-o em páginas tão belas que cintilam indeléveis no ln Memoriam de Antero: "Em Coimbra, uma noite, noite macia de Abril ou Maio, atravessando lentamente com as minhas Sebentas na algibeira o Largo da Feira, avistei sobre as escadarias da Sé Nova, romanticamente batidas pela lua, que nesses tempos ainda era romântica, um homem, de pé, que improvisava. A sua face, a grenha densa e loira com lampejas fulvos, a barba dum ruivo mais escuro, frisada e aguda à maneira siríaca, reluziam, aureoladas. O braço inspirado mergulhava nas alturas como para as revolver. A capa, apenas presa por uma ponta, rolava por trás, largamente, negra nas lages brancas, em pregas de imagem. E, sentados nos degraus da Igreja, outros homens, embuçados, sombras imóveis sobre as cantarias claras, escutavam, em silêncio e enlevo, como discípulos.

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Publicado

2020-05-08

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Artigos