António Vieira na "Prosperidade" da Revolução e a Arte Barroca

Autores

  • Lúcio Craveiro da Silva

Resumo

Um trecho muito interessante da Hístória do Futuro do Padre António Vieira é a análise que ele desenvolve no «Capítulo VII do Livro Primeiro» sobre a situação política, militar, económica, artística e de algum modo até sociológica de Portugal nos 25 anos seguintes a 1640. Este capítulo é originariamente dirigido aos espanhóis ou castelhanos pois ele declara no inicio: «A lição desta História pode ser igualmente útil e proveitosa aos inimigos, se, deixada a dissonância e escândalo deste nome. quiserem antes ser companheiros de nossas felicidades, que padecê-las dobradamente na dor e inveja dos émulos.
Lerão aqui nossos vizinhos e confinantes (que muito a pesar meu sou forçado alguma vez a lhes chamar inimigos, havendo tantas razões, ainda da mesma natureza, para o não serem), lerão aqui com boa conjectura as promessas e decretos divinos, provada a verdade dos futuros com a experiência dos passados»'· Vieira ao mencionar «as promessas e decretos divinos» evoca naturalmente o Bandarra, S. Frei Gil e outras profecias mas sobretudo a aludida aparição de Cristo a D. Afonso Henriques, lenda persistente que só desapareceu definitivamente da nossa narrativa no século XIX com as investigações históricas de Alexandre Herculano. Mas de facto essas lendas, então tomadas a sério, muito contribuíram para a generalizada aceitação da nossa independência, aquém e além-mar, proclamada pelos quarenta fidalgos em Lisboa. Aliás esta mesma moda de lendas proféticas igualmente invadia a literatura castelhana contra Portugal e Vieira, no capítulo VIII, ao refutá-las, escreve: «De maneira que quando as profecias de Portugal profetizam que Portugal se há-de juntar a Castela, são profecias; e quando as profecias profetizam que Portugal se há-de tornar a separar de Castela e se há-de restituir à liberdade, não são profecias!".

Downloads

Publicado

2021-02-18

Edição

Secção

Artigos