A Recâmara do Museu Nogueira da Silva

Autores

  • César Valença

Resumo

A necessidade de expôr peças de várias épocas e materiais, o interesse didáctico de colocar as grandes presas de elefante, objecto de especial interesse repetida e curiosamente demonstrado pelos alunos que passam semanalmente pelo Museu, constituiram um desafio à direcção da Casa. Divididos entre uma apresentação rigorosa, de estrita obediência estilística ou cronológica que tornaria impraticável mostrar objectos de boa qualidade estética ou didáctica mas de difícil colocação em outras zonas do Museu e uma apresentação heterodoxa que poderá não agradar aos partidários de cânones rigorosos, decidiu-se por uma forma de exposição mais heterogénea que nos pareceu não apenas útil mas também interessante. Ao escolher-se uma larga flexibilidade na apresentação pretende-se que os objectos estabeleçam relações entre si ou se confrontem. Que despertem emoções, que sugiram o sentido de viagem no tempo e no espaço e aumentem a curiosidade pelas culturas aqui representadas. Querer-se-ia ainda alicerçar a ideia de que a beleza não é inerente a um período nem a uma civilização. Neste espaço cruzam-se objectos de épocas e culturas variadas muitos dos quais, com incidências nos marfins, contêm em si individualmente um cadinho de culturas ligando-os à Europa, Ásia e também a África, origem dominante do material em que eram realizados os marfins luso-orientais. Há um fio condutor neste labirinto cuja base é a nobreza dos materiais: marfim, ouro, pedras preciosas, prata e alabastro. A mistura de influências aqui presente é igualmente uma característica da civilização portuguesa que lhe deu a dimensão universal, ao que de outro modo seria apenas uma estreita faixa de terra na periferia da Europa. A capacidade de inter-relação, de convívio de familariedade espontânea existente entre as obras, sob o factor comum da beleza e da qualidade, parecem tornar possível e desejável o nosso objectivo.

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Publicado

2021-02-18

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Artigos