Antropoceno, Cuidado e IA

Sobre o processo de ressignificação tecnológica do mundo

Autores

  • Angelo Milhano Praxis: Centro de Filosofia, Política e Cultura - Universidade de Évora

DOI:

https://doi.org/10.21814/anthropocenica.6258

Palavras-chave:

Antropoceno; intencionalidade; Determinação Tecnológica; Cuidado; inteligência Artificial

Resumo

Este artigo centra-se na tomada de consciência histórica provocada pelo Antropoceno e no “golpe” ontológico que infligiu, criando uma nova “ferida narcísica” para a humanidade. Ao expor a nossa vulnerabilidade perante a natureza, o Antropoceno revela-se como o “ente privilegiado” responsável por um processo de dominação tecnológica da natureza, processo esse do qual perdemos, entretanto, o controlo. Este processo resulta da determinação tecnológica da nossa intencionalidade, que estabeleceu uma interpretação instrumental da natureza como uma mera “reserva permanente” (Bestand). Partindo das abordagens ao Antropoceno propostas por Clive Hamilton e Vincent Blok, defendo que a nossa relação com a tecnologia, desde a Revolução Industrial até à emergência da inteligência artificial (IA), é o principal determinante ontológico da nossa atual forma de estar no mundo e da relação com a natureza subjacente a esta. Neste sentido, defenderei que uma abordagem ecomodernista simplista, que vê na IA uma “solução” para os problemas do Antropoceno, tende a reduzi-los a meros processos algorítmicos, afastando-nos ainda mais da relação de “cuidado” (Sorge) com a natureza que deveríamos procurar recuperar e alimentar. Advogo que a aplicação de tecnologias de IA para a resolução da crise climática necessita de ser guiada por uma responsabilidade ética, ontologicamente fundamentada, capaz de garantir a integridade da relação que o ser humano deve à natureza.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Antigo Testamento Católico; Livro 1 - Génesis: Origem da vida e da história. (2000). In Bíblia Sagrada (Edição Pastoral). Paulus Editora.

Block, V. (2022). The ontology of technology beyond anthropocentrism and determinism: The role of technologies in the constitution of the (post)Anthropocene world. Foundations of Science, 8: 987-1005.

Borges-Duarte, I. (2021). Cuidado e afectividade em Heidegger e na análise existencial fenomenológica. Documenta, Nau Editora e PUC-Rio.

Coeckelbergh, M. (2021). Green Leviathan or the poetics of political liberty. Routledge.

Feenberg, A. (1991). Critical theory of technology. Oxford University Press.

Feenberg, A. (1999). Questioning technology. Routledge.

Feenberg, A. (2002). Transforming technology: A critical theory revisited. Oxford University Press.

Freud, S. (2010). Uma dificuldade no caminho da psicanálise. In Obras completas: Volume 14 (1917-1920) (pp. 240-251). Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1917)

Hamilton, C. (2017). Defiant Earth: The fate of humans in the Anthropocene. Ebook

Heidegger, M. (2002). Caminhos de floresta. Fundação Calouste Gulbenkian.

Heidegger, M. (2008a). Being and time. Blackwell Publishing. (Trabalho original publicado em 1927)

Heidegger, M. (2008b). The question concerning technology. In Basic writings (pp. 217–238). Routledge. (Trabalho original publicado em 1954)

Houël, M., Stärker, L., Folegani, M., Bojor, A., Svendsen, K. & Natali, Stefano. (2023). AI - Based Super Resolution in Climate Crisis Context. 1660-1663. In IGARSS 2023 - 2023 IEEE International Geoscience and Remote Sensing Symposium Pasadena, California, USA 16-21 July 2023 (pp. 1660-1663). IEEE. https://www.proceedings.com/content/070/070909webtoc.pdf

Jonas, H. (1995). El principio de responsabilidad. Editorial Herder.

Kuhn, T. (2021). A estrutura das revoluções científicas. Guerra e Paz. (Trabalho original publicado em 1962)

Oliveira, J. (2017). Nihilism and the problem of the future: Biodiversity destruction as one of the great dangers of technology? Ethics in Progress, 8(1): 147-155.

Parisi, L. (2019). The alien subject of AI. Subjectivity, 12: 27-48.

Romele, A. (2023). Digital habitus: A critique of the imaginaries of artificial intelligence. Routledge.

Schütze, P. (2024) The impacts of AI futurism: an unfiltered look at AI’s true effects on the climate crisis. Ethics and Information Technology, 26:23: 1-14

Stiegler, B. (2018). Artificial stupidity and artificial intelligence in the Anthropocene. Institute for Interdisciplinary Research into the Anthropocene. https://iiraorg.com/2023/10/18/artificial-stupidity-and-artificial-intelligence-in-the-anthropocene

Vyasa, M. V. (2013). The Bhagavad Gita. W. W. Norton & Company.

Downloads

Publicado

2025-09-30

Como Citar

Milhano, A. (2025). Antropoceno, Cuidado e IA: Sobre o processo de ressignificação tecnológica do mundo. Anthropocenica. Revista De Estudos Do Antropoceno E Ecocrítica, 6, 39–54. https://doi.org/10.21814/anthropocenica.6258

Edição

Secção

Artigos