Volume 39.1/2025 [aberta]

17-01-2024

Dossiê Temático –  O Cinema sobre o Cinema

Prazo de Submissão: 30 de junho de 2024 

(A revista recebe submissões em fluxo contínuo para as seções Varia, Recensão e Entrevista)

Editores convidados: Margarida E. Pereira (CEHUM/ELACH), Sérgio Sousa (CEHUM/ELACH) e Vítor Moura (CEHUM/ELACH)

Enquanto configuração discursiva, o que o cinema nos dá a ver não são apenas histórias. Independentemente da sua maior ou menor resistência às massas, a sétima arte revela-nos também modos de se ler a si própria. À semelhança do que sucede noutras modalidades expressivas (pense-se na literatura e não apenas), o cinema, socorrendo-se de múltiplos expedientes autorreferenciais (mise en abîme, paródia, pastiche, sobreposições e cruzamentos, momentos metaficcionais e derivas meta-artísticas, etc.), cria, com efeito, no interior do seu espaço discursivo lugares de autorreflexividade. Lugares vastos de implicações e consequências e através dos quais, partilhando com o espetador os mecanismos e as estratégias da sua inteligência ficcional (quando revela a montagem de uma sequência no seu funcionamento técnico, por exemplo), o cinema oferece visões de si mesmo, propõe modos de com ele nos relacionarmos e nos quais, ao fim e ao resto, reflete sobre as condições de possibilidade da sua existência como arte.

É propósito deste número da revista Diacrítica abordar o cinema sobre o cinema, recenseando e problematizando esses lugares ou formas autocríticas em que o discurso cinematográfico, a partir do seu interior e em geometrias e graus de ênfase variados, procura traduzir a natureza específica da sua condição. Analisar o cinema convertido em pensamento de si mesmo (não raro em regime de autoirrisão, como é disso suficiente exemplo Aquele Querido Mês de Agosto, de Miguel Gomes), deslocando assim um tanto a agulha da discussão do horizonte em que a teoria e a crítica em geral situam a análise fílmica, permitirá por certo aprofundar, seja qual for a fenomenologia de perceção convocada, a compreensão de obras marcantes e emblemáticas da sétima arte, e, mais latamente, efetivar um questionamento crítico da gramática cinematográfica quando esta, dada à experimentação e à autorreflexividade, se elege matéria de si mesmo; e, sobretudo, permitirá refletir sobre a maneira como a sétima arte interioriza o seu lugar no concerto das artes e no amplo contexto da realidade empírico-social, ajudando à compreensão do cinema nos seus diversos dimensionamentos (codificação estética, fenómeno mediático, realidade institucional, prática social, etc.).

Numa época em que a cultura audiovisual digital predominante nos afasta cada vez mais do grande ecrã, alargamos esta chamada a artigos que se proponham analisar produtos audiovisuais, tais como séries ou filmes, nomeadamente os produzidos para as novas plataformas digitais (mas não só), onde o questionamento autorreflexivo sobre o cinema é feito já a partir de um outro tempo, meio, linguagem, ou de uma outra tecnologia, mas de algum modo incorporando uma gramática cinematográfica comum.