‘O gosto de ser triste’: algumas fontes portuguesas para a poética da melancolia de Elizabeth Barrett Browning em sonnets from the Portuguese (1850)
DOI:
https://doi.org/10.21814/diacritica.4934Palavras-chave:
Melancolia, Elizabeth Barrett Browning, género, tradição poética portuguesaResumo
Ao encararem a melancolia como a antítese da criatividade poética, os vitorianos romperam com as atitudes tradicionais, sobretudo renascentistas e românticas, que equiparavam o humor melancólico ao génio artístico ou poético. Este artigo propõe-se explorar a forma como Elizabeth Barrett Browning, inicialmente vista como uma poeta emocional e ‘deprimida’, tentou resistir e até escapar ao desempoderamento e ao abandono doentios que tinham afetado poetisas como Felicia Hemans e Letitia Landon, e empenhar-se na formulação de uma nova poética da melancolia na sua obra Sonnets from the Portuguese (1850). Procura ainda analisar a forma como EBB desenvolveu essa poética nos seus sonetos mais tardios, onde demonstra que a boa poesia pode ser escrita sem o recurso à melancolia, mesmo não sendo sempre bem-sucedida nessa rejeição deliberada da depressão. O artigo pretende assim sugerir, através de uma breve análise comparativa, que esta sua aparentemente contraditória ‘poética da melancolia’ deriva muito provavelmente de uma tradição especificamente portuguesa; isto é, do ‘gosto de estar triste’ de Luís de Camões, bem como do amor doloroso presente quer nas epístolas de Mariana Alcoforado (1669) quer ainda nos poemas maneiristas de Soror Maria do Céu – influência que se sustenta na grande semelhança de motivos e de linguagem que pode ser encontrada nos respetivos textos.
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