O disciplinar e o doméstico: Imagens domésticas nos vídeo-performances de Letícia Parente, 1975–1982
DOI:
https://doi.org/10.21814/diacritica.4984Palavras-chave:
Letícia Parente, Brasil, Vídeo Arte, Feminismo, Tarefas Domésticas, DitaduraResumo
Este ensaio centra-se em Letícia Parente (1930–1991), videoartista e cientista brasileira, cujos trabalhos associam imagens e espaços domésticos, bem como tarefas e objetos quotidianos, a violência, repressão e encarceramento. Ao longo das décadas de 1970 e 1980, Parente criou uma série de performances em vídeo, uma abordagem à performance arte na qual se apresentou perante uma câmara de filmar e não perante uma audiência ao vivo. Embora Parente não se identificasse como feminista, este ensaio interpreta o seu trabalho sob uma leitura feminista, argumentando que ela navegou pelas múltiplas pressões da maternidade, do trabalho doméstico e da sua carreira profissional, desenvolvendo trabalhos experimentais que exploram as tarefas domésticas e que testam os seus limites para abordar as divisões de gênero e raça no trabalho e a violência patrocinada pelo estado da ditadura militar brasileira (1964–1985). Esses trabalhos incluem In (1975), que se concentra no ato de pendurar roupas num armário, Marca Registrada(1975), que retrata a costura/bordado, e Tarefa I(1982), que aborda o acto de engomar, executado em sua própria casa. Nesses vídeos, Parente realiza ações quotidianas de formas que promovem a automutilação e o confinamento, com o objectivo de organizar uma resposta à opressão de gênero no quotidiano das mulheres, paralelamente à violência e ao aprisionamento sofridos pelos brasileiros sob a ditadura. Ao retratar ‘punições’ disciplinares (ou a ameaça de tais punições) sob o manto das tarefas domésticas, Letícia Parente demonstra como as mesmas forças que estruturam a sociedade pública disciplinada também configuram os espaços privados do lar.Referências
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