A polifuncionalidade de "mesmo" no português europeu contemporâneo

Autores

  • Ana Cristina Macário Lopes Universidade de Coimbra, CELGA-ILTEC/FLUC (Portugal)

DOI:

https://doi.org/10.21814/diacritica.93

Palavras-chave:

mesmo, polifuncionalidade, português europeu contemporâneo

Resumo

Este artigo visa contribuir para um conhecimento mais aprofundado do comportamento sintático, semântico e pragmático de "mesmo" no português europeu contem-porâneo. Assume-se à partida que as categorias gramaticais são fluidas, havendo deslizamentos intercategoriais regulares quando se atenta no plano do uso das línguas naturais. Assume-se ainda que os significados de um item lexical polifuncional se interligam por ‘parecenças de família’, com zonas parciais de sobreposição ou deimbricação. Assim, partindo da análise de ocorrências recolhidas no CETEMPúblico, verificou-se que o item "mesmo" pode funcionar como adjetivo, como advérbio eainda como conector interoracional, sendo relevante a distribuição sintática para a sua caracterização categorial e semântico-pragmática. Como adjetivo, salienta-se o seu comportamento atípico e analisam-se os seus usos de dependência externa e interna; como advérbio, caracterizam-se dois usos distintos, o uso como advérbio focalizador inclusivo e o uso como advérbio intensificador da força ilocutória do enunciado; finalmente, descreve-se o contributo do item entretanto gramaticalizado como conector para a semântica das construções concessivas. O artigo termina com uma tentativa de interligação dos diferentes valores elencados.

Referências

Albelda Marco, M. (2005). La intensificación em el español coloquial. Universitat de Valencia.

Bosque, I. (2012). Sobre el adjectivo mismo en las construcciones de dependência interna. In T. J. Juliá et al (Orgs), Cum corde et in nova grammatica: estúdios oferecidos a Guillermo Rojo(pp. 93-108). Universidade de Santiago de Compostela.

Charnavel, I. (2010). On the sentence-internal reading of French le même (‘the same’). Proceedings of Salt 20, 216-232. DOI: https://doi.org/10.3765/salt.v20i0.2567

Corominas J & Pascual, J.A. (1989). Diccionario crítico etimológico castellano y hispânico. Madrid: Gredos.

Costa, J. (2008). O advérbio em português europeu. Lisboa: Colibri.

Cunha, C. & Cintra, L. (1984). Nova gramática do português contemporâneo. Lisboa: Sá da Costa.

Duarte, I.M. & Ponce León, R. (2015). Los marcadores assim mesmo (mesmo assim) / asimismo en portugués y en español. In S. Azzo & S. Sarrazin (Orgs), Langage et dynamique du sens. Études de linguistique ibéro-romane (pp. 125-141). Bern: Peter Lang.

Ducrot, O. (1980). Les échelles argumentatives. Paris: Minuit.

Grice, P. (1975). Logic and conversation. In P. Cole & J. Morgan (Orgs), Syntax and Semantics 3: Speech Acts (pp. 41-58). London: Academic Press. DOI: https://doi.org/10.1163/9789004368811_003

Haspelmath, M. & König, E. (1998). Concessive conditionals in the languages of Europe. DOI: https://doi.org/10.1515/9783110802610.563

In J. van der Auwera (Org.), Adverbial constructions in the language of Europe (pp. 563-640). Berlin: Mouton de Gruyter.

König, E. (1991). The meaning of focus particles: a comparative perspective. London: Routledge.

Levinson, S. (2000). Presumptive meanings. The theory of generalized conversational implicature. Cambridge, MA: The MIT Press. DOI: https://doi.org/10.7551/mitpress/5526.001.0001

Lobo, M. (2013). Subordinação adverbial. In E. P. Raposo et al. (Orgs), Gramática do Português, vol, 2 (pp. 1981-2057). Lisboa: FCG.

Lopes, A.C.M. (2016). Consequential constructions in contemporary European Portuguese. Journal of Portuguese Linguistics, 15(8). DOI:

http://doi.org/10.5334/jpl.174 DOI: https://doi.org/10.5334/jpl.174

Lopes, Ó. ([1977] 2005). Construções concessivas. Algumas reflexões formais lógico-pragmáticas. In F. Oliveira & A. M. Brito (Orgs), Entre a palavra e o discurso. Estudos de Linguística 1977-1993 (pp. 193-209). Porto: Campo das Letras.

Machado, J. P. (1967). Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. 2ª ed. Lisboa: Editorial Confluência. Oxford, W. (2010). Same, other and different: a first look at the micro-syntax of identity adjectives. Acedido, em julho de 2017, em http://homes.chass.utoronto.ca/~cla-acl/actes2010/actes2010.html

Peres, J., Móia, T. e Marques, R. (1999). Sobre a forma e o sentido das construções condicionais em português. In I. H. Faria (Orgs) Lindley Cintra. Homenagem ao Mestre e ao Cidadão (pp. 627-654). Lisboa: Cosmos.

Raposo, E. P. (2013). Advérbio e sintagma adverbial. In Raposo et al. (Orgs), Gramática do Português, vol 2 (pp. 1569-1684). Lisboa: FCG.

Searle. J. (1969). Speech Acts. Cambridge: Cambridge University Press. DOI: https://doi.org/10.1017/CBO9781139173438

Tabor, W. & Traugott, E. (1998). Structural scope expansion and grammaticalization. In A.G. Ramat & P. Hopper (Orgs), DOI: https://doi.org/10.1075/tsl.37.11tab

The limits of grammaticalization (pp.229-272). Amsterdam: John Benjamins.

Traugott, E. & Dasher, R. (2002). Regularity in semantic change. Cambridge: Cambridge University Press. DOI: https://doi.org/10.1017/CBO9780511486500

Vieira, R.C. (2015). Brazilian Portuguese ‘mesmo’ in ‘ele mesmo’ as a scalar focus particle: evidence from acquisitional data. ReVEL, 9, 139-150.

Downloads

Publicado

28-11-2018

Como Citar

Lopes, A. C. M. (2018). A polifuncionalidade de "mesmo" no português europeu contemporâneo. Diacrítica, 32(1), 43–67. https://doi.org/10.21814/diacritica.93

Edição

Secção

Artigos Temáticos