ANTI-DUALISMO NO DISCURSO SOBRE O ANTROPOCENO

Autores

  • Bernhard Sylla Universidade do Minho, Centro de Ética, Política e Sociedade

DOI:

https://doi.org/10.21814/eps.3.1.107

Palavras-chave:

Antropoceno, dualismo, antidualismo, filosofia da tecnologia

Resumo

18 anos após a sua introdução no vocabulário científico existe um vasto discurso sobre o Antropoceno que se instalou em áreas científicas muito heterogéneas, desde a Biologia e Geologia até às Artes e Humanidades, inclusive na própria Filosofia. Apesar da sua multidisciplinariedade, parece haver neste discurso um pressuposto comum que, não raras vezes, se transforma numa exigência: a de abandonar um falso dualismo alegadamente responsável pela falta de respostas aos desafios que a nova era antropocénica nos coloca. O antidualismo parece ser um denominador comum, largamente partilhado pelos mais diversos autores do discurso sobre o Antropoceno, mas aquilo que se entende por ‘dualismo’ parece-me extremamente heterogéneo, abrangendo dimensões ontológicas, epistemológicas e políticas, e, por vezes, misturando-as. Seja qual for o dualismo combatido – natureza e cultura, sistema social e sistema terrestre, Homem e Terra, biosfera e noosfera, sujeito e objeto, observador e observado, ciências da natureza e ciências humanas, etc. –, a chave de ouro para desencerrar e desenvolver um pensamento diferente, capaz de enfrentar os desafios ambientais do tempo presente, estaria na superação destes dualismos, i. e., numa perspetiva capaz não apenas de dar conta da intersecção e imbricação dos elementos até então opostos, mas que pressupõe, no fundo, a sua equiparação. Como se pode ou deve pensar tanto a imbricação como a equiparação, pode, no entanto, variar bastante de um autor para outro. Com base nestes pressupostos, focar-me-ei em duas críticas do antidualismo, apresentadas por Andrew Feenberg e por Gernot Böhme. Ambas as críticas escolheram as teorias de Haraway e Latour – autores que se encontram, hoje em dia, entre os mais citados filósofos do pensamento sobre o Antropoceno – como representantes distintos do antidualismo. Defenderei que a crítica ao antidualismo é pertinente e necessária, mas que as versões propostas por Feenberg e Böhme não convencem.

Referências

Bai, X. et al. (2016). Plausible and desirable futures in the Anthropocene: A new research agenda. Global Environmental Change, Volume 39: 351-362. DOI: https://doi.org/10.1016/j.gloenvcha.2015.09.017

Blok, V. (2014). Reconnecting with Nature in the Age of Technology. The Heidegger and Radical Environmentalism Debate Revisited. Environmental Philosophy, 11/2: 307–332. DOI: https://doi.org/10.5840/envirophil20149913

Böhme, G. (2002). On Human Nature. In A. Grunwald, M. Gutman & E. Neumann-Held (eds.), On Human Nature. Anthropological, Biological, and Philosophical Foundations (pp. 3-14). Berlin/Heidelberg: Springer Verlag.

Bunge, M. (1977). Towards a Technoethics. The Monist, Vol. 60, No. 1: 96-107. DOI: https://doi.org/10.5840/monist197760134

Dryzek, J. (2014). Institutions for the Anthropocene: Governance in a Changing Earth System. Available on CJO 2014 doi:10.1017/S0007123414000453, pp. 1-20 [Republished in British Journal of Political Science, 46(4): 937-956]

Feenberg, A. (2002). Transforming Technology. A Critical Theory Revisited. New York: Oxford University Press.

Grunwald, A. (2002). Philosophy and the Concept of Technology? On the Anthropological Significance of Technology. In A. Grunwald, M. Gutman & E. Neumann-Held (eds.), On Human Nature. Anthropological, Biological, and Philosophical Foundations (pp. 179-194). Berlin/Heidelberg: Springer Verlag. DOI: https://doi.org/10.1007/978-3-642-50023-7_13

Hamilton, C. (2015). Getting the Anthropocene so wrong. The Anthropocene Review, 2(2): 1-6. DOI: https://doi.org/10.1177/2053019615584974

Haraway, D. (1985). Manifesto for Cyborgs: Science, Technology, and Socialist Feminism in the 1980s. Socialist Review 80: 65-108.

Haraway, D. (2016). Staying with the trouble. Making Kin in the Chthulucene. Durham and London: Duke University Press. DOI: https://doi.org/10.2307/j.ctv11cw25q

Haraway, D. (2017). A Cyborg Manifesto: Science, Technology, and Socialist-Feminism in the Late Twentieth Century. https://warwick.ac.uk/fac/arts/english/currentstudents/undergraduate/modules/fictionnownarrativemediaandtheoryinthe21stcentury/manifestly_haraway_----_a_cyborg_manifesto_science_technology_and_socialist-feminism_in_the_....pdf DOI: https://doi.org/10.5040/9781474248655.0035

[Reedition of: Haraway, D. (1990). A Cyborg Manifesto: Science, Technology, and Socialist-Feminism in the Late Twentieth Century. In Idem, Simians, Cyborgs and Women: The Reinvention of Nature (pp. 149-181). New York: Routledge.]

Latour, B. (1993). We Have Never Been Modern (trans. Catherine Porter). Cambridge/Mass.: Harvard University Press.

Latour, B. (1999). Politiques de la nature: Comment faire entrer la science en démocratie. Paris: La Découverte.

Latour, Bruno (2004). Politics of Nature. How to Bring the Sciences into Democracy (trans. Catherine Porter). Cambridge/Mass.: Harvard University Press. DOI: https://doi.org/10.4159/9780674039964

Latour, B. (2013). Facing Gaia: Six Lectures on the Political Theology of Nature. https://docs.google.com/file/d/0BxeTjgod3jSSSXZHTU9Yb3FlYms/edit. Accessed 04/2018.

Palsson, G. et al. (2013). Reconceptualizing the ‘Anthropos’ in the Anthropocene: Integrating the Social Sciences and Humanities in Global Environmental Change Research. Environmental Science & Policy, 28: 3-13. DOI: https://doi.org/10.1016/j.envsci.2012.11.004

Downloads

Publicado

2023-09-29

Como Citar

Sylla, B. . (2023). ANTI-DUALISMO NO DISCURSO SOBRE O ANTROPOCENO. Ética, Política & Sociedade, 3, 171–188. https://doi.org/10.21814/eps.3.1.107

Edição

Secção

SPECIAL TOPIC: PHILOSOPHICAL CHALLENGES OF THE ANTHROPOCENE