Aquisição das vogais orais tónicas por aprendentes chineses com proficiência intermédia-alta no português europeu como língua segunda

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21814/diacritica.4805

Palavras-chave:

Aquisição de língua segunda (L2), Vogais tónicas, Português como língua segunda, Chinês mandarim, Ensino de pronúncia

Resumo

No processo de aquisição do Português Europeu (PE) por falantes nativos do Chinês Mandarim (CM), vários desafios fonéticos e fonológicos se colocam, sendo uma das maiores dificuldades a aquisição dos pares contrastivos /e, ɛ/, /o, ɔ/. Para identificar as dificuldades na aprendizagem destas vogais por alunos chineses, o presente estudo-piloto centra-se nas vogais /e/, /ɛ/, /o/ e /ɔ/ produzidas em posição tónica, em diferentes condições experimentais (tarefas de nomeação, de descrição, de repetição e de leitura); as informantes observadas são chinesas, estudam português como língua segunda (L2) e têm nível intermédio-alto de proficiência linguística. Os resultados evidenciam a aquisição problemática dos contrastes vocálicos /e, ɛ/ e /o, ɔ/, sendo a Altura de Vogal a propriedade mais problemática, com as vogais médias [e, o] associadas a taxas de sucesso baixas. Observou-se, ainda, uma maior quantidade de produções corretas das labiais do que das coronais e um melhor desempenho nas tarefas de repetição, de leitura e de nomeação do que na de descrição. Transferência do conhecimento linguístico prévio (CM), princípios universais e caraterísticas fonológicas da língua-alvo (PE) são evocados na discussão sobre o que condiciona o desempenho das informantes. Com base nos dados recolhidos e nas hipóteses sobre as causas a estas subjacentes, defende-se a relevância de uma instrução explícita sobre a pronúncia das vogais /e/, /ɛ/, /o/ e /ɔ/ em níveis avançados de ensino-aprendizagem de português como L2, da análise acústica como ferramenta de aprendizagem da pronúncia e da realização de tarefas de fala controlada e espontânea.

Referências

Alves, U. K. (2015). Ensino de pronúncia na sala de aula de língua estrangeira: questões de discussão a partir de uma concepção de língua como sistema adaptativo e complexo. Revista Versalete, 3(5), 392–413.

André, C. (2016). Olhando o português a partir de Macau. Instituto Politécnico de Macau.

Archibald, J. (2006). Second language phonology as redeployment of phonological knowledge. Canadian Journal of Linguistics, 50(1), 285–314. https://doi.org/10.1353/cjl.2007.0000 DOI: https://doi.org/10.1017/S0008413100003741

Barriuso, T. A., & Hayes-Harb, R. (2018). High variability phonetic training as a bridge from research to practice. The CATESOL Journal, 30(1), 177–194.

Bernhardt, B., & Stemberger, J. (1998). Handbook of phonological development from the perspective of constraint-based nonlinear phonology. Academic Press.

Best, C. T., & Tyler, M. D. (2007). Nonnative and second-language speech perception. In O.-S. Bohn & M. J. Munro (Eds.), Language experience in second language speech earning: in honor of James Emil Flege (pp. 13–34). John Benjamins Publishing Company. https://doi.org/10.1075/lllt.17.07bes DOI: https://doi.org/10.1075/lllt.17.07bes

Boersma, P., & Weenink, D. (2019). Praat – doing phonetics by computer (Version 6.1.04) [Computer software]. https://www.fon.hum.uva.nl/praat/

Castelo, A., & Freitas, M. J. (2019). Produção de vogais orais tónicas do PLE por falantes nativos de chinês mandarim. Orientes Do Português, 1, 47–58. DOI: https://doi.org/10.21747/27073130/ori1a5

Celce-Murcia, M., Brinton, D. M., Goodwin, J. M., & Griner, B. (2010). Teaching pronunciation: a course book and reference guide. Cambridge University Press.

Derwing, T. M., & Munro, M. J. (2005). Second language accent and pronunciation teaching: A research-based approach. TESOL Quarterly, 39(3), 379–397. https://doi.org/10.2307/3588486 DOI: https://doi.org/10.2307/3588486

Duanmu, S. (2007). The phonology of Standard Chinese (2nd ed.).Oxford University Press.

Ellis, R. (2005). Principles of instructed language learning. System, 33(2), 209–224. https://doi.org/10.1016/j.system.2004.12.006 DOI: https://doi.org/10.1016/j.system.2004.12.006

Escudero, P., Hayes-Harb, R., & Mitterer, H. (2008). Novel second-language words and asymmetric lexical access. Journal of Phonetics, 36(2), 345–360. https://doi.org/10.1016/j.wocn.2007.11.002 DOI: https://doi.org/10.1016/j.wocn.2007.11.002

Escudero, P., Boersma, P., Rauber, A. S., & Bion, R. A. H. (2009). A crossdialect acoustic description of vowels: Brazilian and European Portuguese. The

Journal of the Acoustical Society of America, 126(3), 1379–1393.

https://doi.org/10.1121/1.3180321 DOI: https://doi.org/10.1121/1.3180321

Fikkert, P. (1995). Acquisition of phonology. Glot International, 1(8), 3–6. https://repository.ubn.ru.nl/handle/2066/17309

Fikkert, P. (2005). From phonetic categories to phonological features specification: acquiring the European Portuguese vowel system. Lingue e Linguaggio, 4(2), 263–280. https://doi.org/10.1418/20725

Freitas, M. J. (2004) The vowel [ɨ] in the acquisition of European Portuguese. In J. van Kampen & S. Baauw (Eds.), Proceedings of GALA 2003 (pp. 163–174). LOT.

Flege, J. E. (1995). Second-language speech learning: theory, findings, and problems. In W. Strange (Ed.), Speech perception and linguistic experience: issues in cross-language research (pp. 229–273). York Press.

Grant, L. (2014). Prologue to the myths: what teachers need to know. In L. Grant, D. M. Brinton, T. Derwing, M. J. Munro, J. Field, J. Gilbert, J. Murphy, R. Tomson, B. Zielinski, & L. Yates, Pronunciation myths. Applying second language research to classroom teaching (pp. 1–33). University of Michigan Press. DOI: https://doi.org/10.3998/mpub.4584330

Hişmanoğlu, M. (2006). Current perspectives on pronunciation, learning and teaching. Journal of Language and Linguistic Studies, 2(1), 101–110.

Iverson, P., & Evans, B. G. (2009). Learning English vowels with different first-language vowel systems II: auditory training for native Spanish and German speakers. The Journal of the Acoustical Society of America, 126(2), 866–877. https://doi.org/10.1121/1.3148196 DOI: https://doi.org/10.1121/1.3148196

Levis, J. (2017). Evidence-based pronunciation teaching. A pedagogy for the future. Journal of Second Language Pronunciation, 3(1), 1–8. https://doi.org/10.1075/jslp.3.1.001evi DOI: https://doi.org/10.1075/jslp.3.1.001evi

Liakin, D., Cardoso, W., & Liakina, N. (2015). Learning L2 pronunciation with a mobile speech recognizer: French /y/. CALICO Journal, 32(1), 1–25. https://doi.org/10.1558/cj.v32i1.25962 DOI: https://doi.org/10.1558/cj.v32i1.25962

Lin, T., & Wang, L. (2013). Curso de fonética. Beijing University Press.

Martins, M. R. D. (1975). Vogais e consoantes do português: estatística de ocorrência, duração e intensidade. Boletim de Filologia, Tomo XXIV, 1/4, 1–11.

Mateus, M. H. M., & Andrade, E. (2000). The phonology of Portuguese. OUP.

Mateus, M. H. M., Falé, I., & Freitas, M. J. (2005). Fonética e fonologia do português. Universidade Aberta.

Matzenauer-Hernandorena, C. L. (1990). Aquisição da fonologia do português: estabelecimento de padrões com base em traços distintivos [Tese de doutoramento não publicada, Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre].

Matzenauer-Hernandorena, C. L., & Costa, T. (2017). Aquisição da fonologia em língua materna: os segmentos. In M. J. Freitas & A. L. Santos (Eds.), Aquisição de língua materna e não materna. Questões gerais e dados do português (pp. 51–70). Language Science Press. https://doi.org/10.5281/zenodo.889261

Oliveira, I. G. (2006). A aquisição do sistema vocálico por falantes de português europeu como língua não materna [Dissertação de mestrado, Universidade de Lisboa]. Repositório da Universidade de Lisboa. http://hdl.handle.net/10451/370

Rauber, A. S., Rato, A., & Silva, A. L. (2010). Percepção e produção de vogais anteriores do inglês por falantes nativos de mandarim. Diacrítica, 24(1), 5–23.

Saito, K. (2011). Examining the role of explicit phonetic instruction in native-like and comprehensible pronunciation development: An instructed SLA approach to L2 phonology. Language Awareness, 20(1), 45–59. https://doi.org/10.1080/09658416.2010.540326 DOI: https://doi.org/10.1080/09658416.2010.540326

Schane, S. A. (1984). The fundamentals of particle phonology. Phonology, 1, 129–155. https://doi.org/10.1017/S0952675700000324 DOI: https://doi.org/10.1017/S0952675700000324

Stevick, E. W. (1975, November 27–30). Alienation as a factor in the learning of foreign languages [Paper presentation]. Annual Meeting of the American Council on the Teaching of Foreign Languages, Washington D.C, United States. http://eric.ed.gov/?id=ED113979

Thomson, R. I. (2011). Computer assisted pronunciation training: Targeting second language vowel perception improves pronunciation. CALICO Journal, 28, 744–765. https://doi.org/10.11139/cj.28.3.744-765 DOI: https://doi.org/10.11139/cj.28.3.744-765

Veloso, J. (2012). Vogais centrais do português europeu contemporâneo: uma proposta de análise à luz da fonologia dos elementos. Letras de Hoje, 47(3), 234–243. http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fale/article/view/11853

Veloso, J. (2016). O sistema vocálico e a redução e neutralização das vogais átonas em português europeu contemporâneo. In A. M. Martins & E. Carrilho (Eds.), Manual de linguística portuguesa (pp. 636–662). De Gruyter. DOI: https://doi.org/10.1515/9783110368840-026

Vigário, M., Freitas, M. J., & Frota, S. (2006). Grammar and frequency effects in

the acquisition of prosodic words in European Portuguese. Language and

Speech, 49(2), 175–203. https://doi.org/10.1177/00238309060490020301 DOI: https://doi.org/10.1177/00238309060490020301

Vigário, M., Martins, F., & Frota, S. (2005). Frequências no Português Europeu:

a ferramenta FreP. In I. Duarte & I. Faria (Eds.), Actas do XX Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística (pp. 897–908). Colibri.

Wang, S. (1991). O português para um chinês. Abordagem simultânea sobre os métodos de ensinar português aos chineses. Instituto Rainha D. Leonor.

Yang, S., Rato, A., & Flores, C. (2015). Perceção das consoantes oclusivas de Português L2 sob a influência de Mandarim L1. Diacrítica, 29(1), 61–94.

Yates, E. (2002b). Fact sheet – Setting goals for teaching pronunciation. http://www.ameprc.mq.edu.au/__data/assets/pdf_file/0005/229352/02Pronunciation.pdf

Zhou, C., & Hamann, S. (2020). Cross-linguistic interaction between phonological categorization and orthography predicts prosodic effects in the acquisition of Portuguese liquids by L1-Mandarin learners. Proc. Interspeech 2020, 4486–4490. https://doi.org/10.21437/Interspeech.2020-2689 DOI: https://doi.org/10.21437/Interspeech.2020-2689

Zimmer, M., & Alves, U. (2012). Uma visão dinâmica da produção da fala em l2: o caso da dessonorização terminal. Revista da ABRALIN, 11, 221–271. https://doi.org/10.5380/rabl.v11i1.32467 DOI: https://doi.org/10.5380/rabl.v11i1.32467

Downloads

Publicado

28-12-2022

Como Citar

Duan, H., Castelo, A., & Freitas, M. J. (2022). Aquisição das vogais orais tónicas por aprendentes chineses com proficiência intermédia-alta no português europeu como língua segunda. Diacrítica, 36(2), 76–99. https://doi.org/10.21814/diacritica.4805