A re-emergência literária de vozes e memórias femininas silenciadas durante a ditadura militar brasileira

Autores

  • Alessia Di Eugenio

DOI:

https://doi.org/10.21814/diacritica.4992

Palavras-chave:

Ditadura, Feminismo, Mulheres brasileiras, Literatura

Resumo

As vozes das mulheres brasileiras, hoje em dia, incomodam muito o poder político conservador, que tenta continuamente (re)estabelecera prioridade da fala dos homens e a ilegitimidade da presença das mulheres como sujeito político no espaço público. Em particular, neste momento político é interessante olhar para as experiências de mulheres que viveram e lutaram durante outro momento brutalmente conservador da história brasileira, aquele dos vinte e um anos da ditadura civil-militar. Relativamente a essa geração, este artigo aborda textos de Maria Pilla e Maria Valéria Rezende. Recordar estas mulheres é tanto mais importante porque o governo Temer e o governo Bolsonaro construíram uma conexão explícita com a época da ditadura, e porque o surgimento do movimento feminista brasileiro está ligado à história da participação das mulheres na luta de oposição ao autoritarismo dos anos 60 e 70. Através de uma reconstrução das publicações de depoimentos e relatos de mulheres e romances escritos por mulheres, queremos refletir sobre o processo de transmissão da memória feminina da luta contra a ditadura –entre remoção histórica e re-emergência literária –e sobre a temporalidade desta memória, para entender melhor a sua herança em relação às lutas que enfrentam hoje as mulheres brasileiras. Nesse sentido, este artigo aborda também duas autoras de uma geração subsequente, que abordam nas suas obras asmemórias familiares e privadas da ditadura. Trataremos textos de Adriana Lisboa e Liliane Hang Brum.

Referências

Alvarez, S. (1990). Engendering Democracy in Brazil. Princeton, NJ: Princeton University Press.

Assmann, A. (2019). Sette modi di dimenticare. Bologna: Il Mulino.

Brum, L. H. (2012). Antes do Passado. O silencio que vem do Araguaia. Porto Alegre: Arquipélago.

Cestari, M. J. (2013). As mesmas e as novas mulheres do feminismo brasileiro. Estudos Linguísticos, 42 (3), 1127–1140.

Comissão Nacional da Verdade. (2014, dezembro 10). Relatório da Comissão Nacional da Verdade (Vol. 1). Consultado em http://cnv.memoriasreveladas.gov.br/.

Colling, A. M. (1997). A resistência da mulher à ditadura militar no Brasil. Rio de Janeiro: Rosa dos Ventos.

Colling, A. M. (2004). As mulheres e a Ditadura Militar no Brasil. Trabalho apresentado no VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais, Coimbra, pp. 1–11. Consultado em http://www.ces.uc.pt/lab2004/pdfs/Ana_Maria_Colling.pdf (último acesso: 11/07/2019)

Costa, A. O., Moraes, M. T. P., Marzola, N., & Lima, V. R. (1980). Memórias das mulheres do exílio. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

Figuereido, E. (2017). A literatura como arquivo da ditadura brasileira. Rio de Janeiro: 7Letras.

Freitas, G. (2016, janeiro 5). Entrevista: Maria Valéria Rezende lança romance inspirado em sua atuação contra ditadura. O Globo. Consultado em https://oglobo.globo.com/cultura/livros/maria-valeria-rezende-lanca-romance-inspirado-em-sua-atuacao-contra-ditadura-3-18407009 (último acesso: 11/07/2019).

Fundação Perseu Abramo. (2010). Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado. São Paulo: FPA/SESC.

Gazzera, A. (2019). Marielle Presente! Alessandria: Capovolte.

Ginzburg, J. (2012). Crítica em tempos de violência. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo.

Halbwachs, M. (2007). La memoria collettiva. Milano: Unicopli.

Kucinski, B. (2003). Jornalistas e Revolucionários: nos tempos da imprensa alternativa. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo.

Lisboa, A. (2010, outubro 10). Entrevista. Isto é gente, 580. Consultado em https://www.terra.com.br/istoegente/edicoes/580/artigo189292-1.htm

Lisboa, A. (2014). Azul Corvo. Rio de Janeiro: Objetiva.

Merlino, T. (2010). Direito à memória e à verdade: Luta substantivo feminino. São Paulo: Editora Caros Amigos.

Moraes, M. L. Q. de (2003). Feminismo, Movimento de Mulheres e a (re)construção da democracia em três países da América Latina. Primeira Versão, 121. 39 pp.

Moraes, M. L. (2006). Da luta armada ao feminismo. Texto apresentado no 30.º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais – GT09: Gênero na Contemporaneidade, Caxambu, MG. Consultado em: https://www.anpocs.com/ index.php/papers-30-encontro/gt-26/gt09-16/3290-mmoraes-da-luta/file.

Otávio, C. (2014, agosto 19). Miriam Leitão fala sobre tortura que sofreu nua e grávida de 1 mês durante ditadura. O Globo. Consultado em https://oglobo.globo.com/brasil/miriam-leitao-fala-sobre-tortura-que-sofreu-nua-gravida-de-1-mes-durante-ditadura-13663114 (último acesso: 11/07/2019).

Paim, L., & Porto, A. (2015, novembro 15). Maria Regina Pilla relembra momentos da ditadura e da tortura, sem rancor ou truculência. Consultado em https://www.sul21.com.br/em-destaque/2015/11/maria-regina-pilla-relembra-momentos-da-ditadura-e-de-tortura-sem-rancor-ou-truculencia/ (último acesso: 11/07/2019).

Pethes, N., & Ruchatz, J. (2002). Dizionario della memoria e del ricordo. Milano: Mondadori.

Perrot, M. (1989). Praticas da memoria feminina. Revista Brasileira de História, 9 (18), 9–18.

Pilla, M. (2015). Volto semana que vem. São Paulo: Cosacnaify.

Pinto, C. R. J. (2003). Uma história do feminismo no Brasil, São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo.

Ridenti, M. S. (1990). As mulheres na política brasileira: os anos de chumbo. Tempo Social, 2 (2), 113–128. DOI: https://doi.org/10.1590/ts.v2i2.84806

Rezende, M. V. (2016). Outros Cantos. Rio de Janeiro: Alfaguara.

Sarti, C. A. (1998). O início do feminismo sob a ditadura no Brasil: o que ficou escondido. Texto apresentado no XXI Congresso Internacional da LASA (Associação de Estudos Latino-Americanos), Chicago, pp. 1–12. Consultado em http://biblioteca.clacso.edu.ar/ar/libros/ lasa98/Sarti.pdf.

Sarti, C. A. (2001). Feminismo e contexto: lições do caso brasileiro. Cadernos Pagu, 16, 31–48. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-83332001000100003

Teles, M. A. de A. (1999). Breve história do feminismo no Brasil. São Paulo: Editora Brasiliense.

Teles, M. A. de A. (2014). O protagonismo de mulheres na luta contra a ditadura militar. Bauru, 2 (2), 9–18.

Teles, M. A. de A. (2015). A construção da memória e da verdade numa perspectiva de gênero, Revista direito Gv, 11 (2), 502–522. DOI: https://doi.org/10.1590/1808-2432201522

Vecchi, R. (2010). Memória no feminino: Tropical Sol da Liberdade de Ana Maria Machado. Revista Brasileira, 65, 253–265.

Venturi, G., & Godinho, T. (2013; orgs.). Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado. São Paulo: Fundação Perseu Abramo : Edições Sesc SP, 2013.

Downloads

Publicado

31-07-2020

Como Citar

Eugenio, A. D. (2020). A re-emergência literária de vozes e memórias femininas silenciadas durante a ditadura militar brasileira. Diacrítica, 34(2), 236–248. https://doi.org/10.21814/diacritica.4992