O processamento de pistas de contextualização por estudantes haitianos no contexto de ensino do português brasileiro como língua de acolhimento

Autores

  • Rodrigo Albuquerque Universidade de Brasília (Brazil)
  • Ana Quésia de Sousa Silva Universidade de Brasília (Brazil)

DOI:

https://doi.org/10.21814/diacritica.65

Palavras-chave:

pistas de contextualização, inferência conversacional, ensino de português brasileiro como língua de acolhimento, contato intercultural

Resumo

O contato intercultural oferece grande probabilidade para desalinhamentos interacionais, afetando o mútuo entendimento dos interlocutores, em razão dos distintos enquadres socioculturais nos quais os sujeitos se inserem. Em virtude desse cenário,nosso estudo visa a investigar que pistas de contextualização são processadas por aprendizes haitianos de português brasileiro como língua de acolhimento em contato com a professora nativa. Para tanto, enquadramo-nos na sociolinguística interacional, por congregar uma discussão em torno das pistas de contextualização (cf. Gumperz 1982a; Albuquerque 2009, 2017) voltada para um novo contexto socioeducativo reivindicado pela agenda da língua deacolhimento (cf. Grosso 2010; Cabete 2010). Como procedimentos metodológicos, realizamos notas de campo, sob recomendações etnográficas, registrando a interação entre Patrícia (professora brasileira) e seus estudantes haitianos (João e Natália). Os excertos interacionais revelaram, demodo geral, que Natália não processou adequadamente as pistas de ordem não linguística que faziam referência ao termo Brasil, porém, assim como João, processouos sinais linguísticos e não linguísticos concernentes ao entendimento da expressão Tiradentes. Salientamos, por fim, que a sala de aula se torna plenamente um espaço de acolhimento, na medida em que oferece aos atores sociais a possibilidade deconstrução conjunta de sentidos.

Referências

Adendorff, R. D. (1996). The functions of code switching among high school teachers and students in KwaZulu and implications for teacher education. In K. M. Bailey & D. Nunan (Orgs), Voices From the Language Classroom: Qualitative research in second language education (pp. 388-405). Cambridge: Cambridge University Press.

Akman, V. (2000). Rethinking context as a social construct. Journal of Pragmatics, 32, 743-759. DOI: https://doi.org/10.1016/S0378-2166(99)00067-3

Albuquerque, R. (2009). O processamento de pistas de contextualização: um olhar voltado para os falantes de espanhol aprendizes de português. Dissertação de mestrado, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil.

Albuquerque, R. (2015). Um estudo de polidez no contexto de L2: estratégias de modalização de atos impositivos por falantes de espanhol. Tese de doutorado, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil.

Albuquerque, R. (2016). O olhar como estratégia de polidez entre duas estudantes de português brasileiro como língua adicional.

Revista Letra Capital, 1(2), 53-71.

Albuquerque, R. (2017). “Filha do leiteiro”: a negociação de pistas de contextualização no contexto de ensino de Português Brasileiro como Língua Adicional. Domínios da Lingu@gem, 11(3), 929-950. DOI: https://doi.org/10.14393/DL30-v11n3a2017-22

Arantes, P. C. C. & Deusdará, B. (2015). Português para refugiados: aliando pragmática e discurso em resposta a uma demanda concreta. Revista Letrônica on-line, 8(1), 45-59. Atkinson, J. M. & Heritage, J. (2006 [1984]). Jefferson’s transcript notation. In A. Jaworski & N. Coupland (Orgs), The Discourse Reader (2nd ed) (pp. 158-165). USA: Routledge. DOI: https://doi.org/10.15448/1984-4301.2015.1.19621

Auer, P. (1992). Introduction: John Gumperz’ Approach to Contextualization. In P. Auer (Ed.), The contextualization of language (pp. 1-37). Amsterdam: Benjamins. DOI: https://doi.org/10.1075/pbns.22.03aue

Bailey, B. (2015). Interactional Sociolinguistics. In K. Tracy (Org.), DOI: https://doi.org/10.1002/9781118611463.wbielsi060

The International Encyclopedia of Language and Social Interaction

(pp. 826-840). UK: Wiley Blackwell.

Bakhtin, M. (1979). Marxismo e Filosofia da Linguagem (Tradução de Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira). São Paulo: Editora Hucitec.

Bateson, G. (1987 [1972]). A Theory of Play and Fantasy. In G. Bateson (Org.), Steps to an ecology of mind (pp. 183-198). London: Jason Aronson.

Bauman, Z. (2004). Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi

(Tradução de Carlos Alberto Medeiros). Rio de Janeiro: Zahar.

Cabete, M. (2010). O processo de ensino-aprendizagem do português enquanto língua de acolhimento. Dissertação de mestrado, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal.

Cançado, M. (1994). Um estudo sobre a pesquisa etnográfica em sala de aula. Trab. Ling. Apl. Campinas, 23, 55-69.

Chaves, E. O. (2005). Fragilidade do Estado e o fenômeno do refúgio no caso do Haiti. Dissertação de mestrado, Universidade de Brasília, Brasil.

Davis, F. (1979). A comunicação não-verbal (Tradução de Antônio Dimas). São Paulo: Summus.

Erickson, F. (1990). Qualitative Methods in research in teaching and learning (Tradução de Stella Maris Bortoni-Ricardo). New York: Macmillan publishing company.

Goff man, E. (1974). Frame Analysis. New York: Harper & Row.

Goodwin, C. & Duranti, A. (1997 [1992]). Rethinking context: an introduction. In C. Goodwin & A. Duranti (Orgs), Rethinking context: language as an interactive phenomenon (pp. 1-42). Cambridge: Cambridge University Press.

Gordon, C. & Kraut, J. (2017). Interactional Sociolinguistics. In B. Vine (Org.), The Routledge Handbook of Language in the Workplace DOI: https://doi.org/10.4324/9781315690001-2

(pp. 3-14). Abingdon: Routledge Handbooks.

Green, J. & Bloome, D. (1998). Ethnography and ethnographers of and in education: a situated perspective. In J. Flood, S. B. Heath & D. Lapp (Orgs), Handbook for literacy educators: research in the community and visual arts (pp. 181-202). New York: Macmillan.

Grosso, M. J. (2010). Língua de acolhimento, língua de integração. DOI: https://doi.org/10.26512/rhla.v9i2.886

Horizontes de linguística aplicada, 9(2), 61-77.

Gumperz, J. J. (1982a). Discourse strategies. Cambridge: Cambridge University Press.

Gumperz, J. J. (1982b). Fact and inference in courtroom testimony. In J. J. Gumperz (Org.), Language and social identity (pp. 163-195). Cambridge: Cambridge University Press. DOI: https://doi.org/10.1017/CBO9780511620836.012

Gumperz, J. J. (1997 [1992]). Contextualization and understanding. In C. Goodwin & A. Duranti (Orgs), Rethinking context: language as an interactive phenomenon (pp. 229-252). Cambridge: Cambridge University Press.

Gumperz, J. J. (1999). On interactional sociolinguistic method. In S. Sarangi & C. Roberts (Orgs), Talk, work and institutional order DOI: https://doi.org/10.1515/9783110208375.4.453

(pp. 453-471). Berlin: Mouton de Gruyter.

Gumperz, J. J. (2001). Interactional Sociolinguistics: A Personal Perspective. In D. Schiffrin; D. Tannen & H. E. Hamilton (Orgs),

The Handbook of Discourse Analysis (pp. 215-228). USA: Blackwell Publishers.

Houaiss, A. & Villar, M. S. (2009). Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva.

Johnstone, B. (2008 [2002]). Discourse Analysis (2nd ed). USA: Blackwell Publishing.

Kecskes, I. (2014). Intercultural pragmatics. Oxford: Oxford University Press. DOI: https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199892655.001.0001

Knapp, M. L. & Hall, J. A. (1992). Nonverbal Communication in Human Interaction (3rd ed). USA: Harcourt Brace Jovanovich.

Marcuschi, L. A. (1991). Análise da Conversação (2. ed). São Paulo: Ática.

Marcuschi, L. A. (2007a). Fenômenos da linguagem: reflexões semânticas e discursivas. Rio de Janeiro: Lucerna.

Marcuschi, L. A. (2007b). Cognição, linguagem e práticas interacionais. Rio de Janeiro: Lucerna.

Ochs, E. (2006 [1984]). Transcription as theory. In A. Jaworski & N. Coupland (Orgs), The Discourse Reader (2nd ed) (pp. 166-178). USA: Routledge.

Oliveira, M. do C. L. & Pereira, M. das G. D. (2016). A Sociolinguística e os estudos da interação. In M. C. Mollica & C. Ferrarezi Júnior (Orgs), Sociolinguística, sociolinguísticas: uma introdução (pp. 111-122). São Paulo: Contexto.

Oliveira, M. R & Wilson, V. (2011). Linguística e ensino. In M. E. Martellota (Org.), Manual de linguística (2. ed) (pp. 235-242). São Paulo: Contexto.

Preti, D. (2008). Normas para transcrição dos exemplos. In D. Preti (Org.), Cortesia verbal (pp. 17-18). São Paulo: Humanitas.

Rampton, B. (2017). Interactional Sociolinguistics. Tilburg Papers in Culture Studies, 175, 1-15.

Rector, M. & Trinta, A. R. (1986). Comunicação não-verbal: a gestualidade brasileira (2. ed). Petrópolis: Vozes.

Redin, G. & Barbosa, J. G. (2014). Da Segurança Internacional à Segurança Humana: Implicações do instituto jurídico do Refúgio e o caso da política externa bilateral Brasil – Haiti na questão imigratória. Boletim Meridiano, 47(15), 141, 10-17.

Redin, G. & Minchola, L. A. B. (2013). Proteção dos refugiados na declaração de Cartagena de 1984: uma análise a partir do caso dos haitianos no Brasil. Revista de Estudos Internacionais, 4(1), 30-45.

Ribeiro, B. T. & Garcez, P. M. (1998). Sociolinguística Interacional: antropologia, linguística e sociologia em análise do discurso. Porto Alegre: AGE. Schiffrin, D. (1987).

Discourse markers. Cambridge: Cambridge University Press.

Schiffrin, D. (2006 [1996]). Interactional Sociolinguistics. In S. L. McKay & N. H. Hornberger (Orgs), Sociolinguistics and Language Teaching (pp. 307-328). Cambridge: Cambridge University Press. DOI: https://doi.org/10.1017/CBO9780511551185.014

Streeck, J. (2010). Ecologies of gesture. In J. Streeck (Org.), New Adventures in Language and Interaction (pp. 223-242). Amsterdam & Philadelphia: John Benjamins Publishing Company. Tannen, D. (2005 [1984]). Conversational Style: Analyzing Talk among Friends. Oxford: Oxford University Press. DOI: https://doi.org/10.1075/pbns.196.10str

Tannen, D. & Wallat, C. (2006 [1987]). Interactive frames and knowledge schemas in interaction: examples from a medical examination/interview. In A. Jaworski & N. Coupland (Orgs), The

Discourse Reader (2nd ed) (pp. 332-348). USA: Routledge.

Van Dijk, T. A. (2012). Discurso e contexto: uma abordagem sociocognitiva (Tradução de Rodolfo Ilari). São Paulo: Contexto.

Wilson, A. (2004). When Contextualization Cues Mislead: Misunderstanding, Mutual Knowledge, and Non-Verbal Gestures.

California Linguistic Notes, 29 (1), 1-4.

Downloads

Publicado

28-11-2018

Como Citar

Albuquerque, R., & Silva, A. Q. de S. (2018). O processamento de pistas de contextualização por estudantes haitianos no contexto de ensino do português brasileiro como língua de acolhimento. Diacrítica, 32(1), 133–158. https://doi.org/10.21814/diacritica.65