Tanto talento em tão pouco tempo: o que diz Veleio Patérculo sobre outros autores

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21814/diacritica.6560

Palavras-chave:

Veleio Patérculo, História Romana, Cânone Literário, Ingenium, Ars

Resumo

Propõe-se neste artigo uma análise dos trechos em que são abordados autores de diferentes gêneros na História Romana, obra da primeira metade do primeiro século de nossa era escrita por Veleio Patérculo. Ainda que o texto tenha sobrevivido em mau estado, e que o status de Veleio enquanto historiador tenha sido questionado, o seu trabalho tem-se revelado uma fonte relevante quanto ao período do final da República e início do Império Romano. Apresenta-se também como um dos poucos registros disponíveis sobre determinados autores cujas obras perderam-se total ou parcialmente ao longo do tempo, o que justifica o recorte aqui abordado. Utilizam-se nesta reflexão as proposições de Mario Citroni (2006a) sobre os cânones antigos e as listas e os critérios de seleção presentes em autores como Horácio e Quintiliano para discutir o que Veleio indica. Conclui-se que o historiador valoriza o ingenium, um talento natural, mas também é possível notar a importância dada à ars como meio para os autores atingirem a posição de glória, autoridade e imortalidade. Essa excelência, por sua vez, tornaria os textos difíceis de serem imitados por aqueles que vêm depois, exigindo destes mais empenho e fazendo com que os grandes talentos concentrem-se em curtos espaços de tempo.

Referências

Cícero. (2013). Em defesa de Célio (Trad. Sara Mariana Moreira Maurício). In: S. M. M. Maurício, Cícero: em defesa de Célio (Dissertação de mestrado, Universidade de Coimbra, Coimbra, pp. 40-75). http://hdl.handle.net/10316/23960

Cornell, T. & Bispham, E. (Orgs.). (2013). The fragments of the Roman historians: texts and translations (Vol. 2). Oxford University Press.

Gélio, A. (2010). Noites áticas (2.ª ed., J. R. S. Filho, Trad.). EDUEL.

Hesíodo. (1992). Teogonia: a origem dos deuses (2.ª ed., Trad. J. Torrano, Trad.). Iluminuras.

Hesíodo. (2012). Os trabalhos e os dias (A. R. de Moura, Trad.). Segesta.

Horácio. (1993). Arte poética: bilíngue (D. Tringali, Trad.). In D. Tringali, A arte poética de Horácio: bilíngue. Musa.

Horácio. (2011). Sátiras (A. L. Seabra, Trad.). EDIPRO.

Horácio. (2021). Odes: inclui o cântico secular (P. B. Falcão, Trad.). Editora 34.

Ovídio. (2011). Amores. In Ovídio, Amores e Arte de amar (C. A. André, Trad., pp. 101-238). Companhia das Letras.

Propércio. (2014). Elegias de Sexto Propércio (G. G. Flores, Trad.). Autêntica.

Quintiliano. (2009). Livro X da Institutio oratoria (Trad. A. M. Rezende, Trad.). In A. M. Rezende, Rompendo o silêncio: a construção do discurso oratório em Quintiliano [Tese de doutoramento, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, pp. 184-274]. https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/ALDR-7U8PNU

Tibulo. (1990). Elegias (J. B. T. Prado, Trad.). In J. B. Prado, Elegias de Tibulo [Dissertação de mestrado, Universidade de São Paulo, São Paulo]. https://repositorio.usp.br/item/000733568

Velleius Paterculus, C. (1965). Historiae romanae libris duobus quae supersunt (2.ª ed., C. S. de Pritzwald, Ed.). Teubner.

Virgílio. (2005). Bucólicas: edição bilíngue (R. Carvalho, Trad.). Crisálida.

Estudos

Campos, R. da C. (2011). A passagem de Augusto e a ascensão política de Tibério César: a transmissão do poder em Veléio Patérculo. Antiguidade Clássica, 6(2), 91–106. http://antiguidadeclassica.com.br/website/edicoes/sexta_edicao/Artigo8.pdf

Campos, C. E. da C. (2021). A masculinidade de Otaviano sob ataque: relações de poder e potencialidade para liderança de Roma, no século I AEC. História Unisinos, 25 (1), 1–7. https://doi.org/10.4013/hist.2021.251.01

Citroni, M. (2006a). The concept of the classical and the canons of model authors in Roman Literature (R. A. Packham, Trad.). In J. I. Porter (Ed.), Classical pasts: the classical traditions of Greece and Rome (pp. 204–234). Princeton University Press. https://doi.org/10.2307/j.ctv19fvxqg.12

Citroni, M. (2006b). Historiografia e erudição desde Tibério até Cláudio. In M. Citroni et al., Literatura de Roma Antiga (M. Miranda & I. Hipólito, Trads., pp. 661–689). Fundação Calouste Gulbenkian.

Domainko, A. (2018). Velleius Paterculus: shutting down uncertainty. In A. Domainko, Uncertainty in Livy and Velleius. (pp. 63–113). C. H. Beck. https://doi.org/10.4000/books.chbeck.1892

Ferreira Lima, W. (2016). Poética e teoria da literatura na Roma clássica [Tese de doutoramento, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte]. http://hdl.handle.net/1843/LETR-ABZSBM

Goar, R. J. (1976). Horace, Velleius Paterculus and Tiberius Caesar. Latomus, 35(1), 43–54. http://www.jstor.org/stable/41533480

Gonçalves, A. T. M. & Souza, A. M. de. (2020). Caio Graco e a ordem equestre no final da República Romana: uma análise da Lex Repetundarum. Phoînix, 14(1), 68–82. https://revistas.ufrj.br/index.php/phoinix/article/view/33120

Glare, P. G. W. (Ed.). (1968). Oxford Latin dictionary. Oxford University Press.

Leite, L. R. (2019). A farsália, de Lucano, como obra historiográfica. ArtCultura, 21(38), 59–72. https://doi.org/10.14393/artc-v21-n38-2019-50159

Lopes, M. J. F. (2018). De princeps optimus a occultum pectus: a construção do perfil de Tibério, nas palavras de Veleio Patérculo e Tácito. In C. Soares, J. L. Brandão & P. C. Carvalho (Coords.), História antiga: relações interdisciplinares. Fontes, artes, filosofia, política, religião e receção (pp. 113–145). Imprensa da Universidade de Coimbra. https://hdl.handle.net/10316.2/44721

Mello, J. F. (2019). Os fragmentos de Varrão Atacino: tradução e notas. Nuntius Antiquus, 15(2), 159–176. https://doi.org/10.17851/1983-3636.15.2.159-176

Peirano, I. (2013). Ille ego qui quondam: on authorial (an)onymity. In A. Marmodoro & J. Hill (Eds.), The author’s voice in classical and late antiquity (pp. 251–285). Oxford University Press. https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199670567.003.0010

Pociña Pérez, A. (1975). La ausencia de Enio y Plauto en los excursos literarios de Veleyo Patérculo. Cuadernos de Filología Clásica, 9, 231–240. https://revistas.ucm.es/index.php/CFCA/article/view/CFCA7575220231A

Sánchez Manzano, M. A. (2001). Introducción y notas. In Veleio Patérculo, História Romana (pp. 7–41). Gredos.

Shipley, F. W. (1924). Introduction and notes. In V. Patterculus, Velleius Paterculus’ compendium of Roman history, and res gestae divi Augusti (F. W. Shipley, Trad.). G. P. Putnam’s Sons.

Souza, A. M. de. (2013). Amizade e patronato: uma análise da relação de Veléio Patérculo e Marco Vinício (séc. I d. C.). Revista Alétheia, 8(1), 156–173. https://periodicos.ufrn.br/aletheia/article/view/6172

Starr, R. J. (1980). Velleius’ literary techniques in the organization of his history. Transactions of the American Philological Association, 110, 287–301. https://doi.org/10.2307/284223

Starr, R. J. (1981). The scope and genre of Velleius’ history. The Classical Quarterly, 31(1), 162–174. http://www.jstor.org/stable/638468

Vasconcellos, P. S. (2001). Efeitos intertextuais na Eneida de Virgílio. Humanitas/FFLCH/USP.

Vessey, D. W. T. C. (1989). Épica flávia. In E. J. Kenney & W. V. Clausen (Eds). História de la literatura clásica – Cambrigde University: literatura latina (E. Bombín, Trad. Vol. 2, pp. 613–652). Editorial Gredos.

Downloads

Publicado

21-10-2025

Como Citar

Mello, J. F. (2025). Tanto talento em tão pouco tempo: o que diz Veleio Patérculo sobre outros autores. Diacrítica, 39(2), 345–361. https://doi.org/10.21814/diacritica.6560