A luta feminista no período ditatorial brasileiro: Representações da mulher em Ave de Paraíso e Colheita de Nélida Piñon

Autores

  • Danielly Cristina Pereira Vieira

DOI:

https://doi.org/10.21814/diacritica.4990

Palavras-chave:

Feminismo, Feminino, Ditadura, Mulher, Representação

Resumo

Intitulando-se feminista histórica por desde cedo aderir ao movimento feminista, Nélida Piñon utiliza sua escrita para tratar de diversos aspectos que envolvem a mulher. Iremos analisar os contos Ave de Paraíso e Colheita, que integram a obra Sala de Armas(Piñon 1973),relacionando-os com o movimento feminista das décadas de 1970 e 80 no Brasil, período no qual a luta feminista pela politização do cotidiano é expandida e consolidada, a fim de perceber e analisar a construção das personagens femininas desses contos como imagens de crítica à condição da mulher até então pautada no destino biológico e na vida privada. Para isso, destrincharemos, principalmente, a crescente valorização das atividades domésticas–ponto chave do conto Colheita–e a caracterização extremamente passiva das mulheres–ponto chave do conto Ave de Paraíso. Utilizaremos as perspectivas da crítica feminista, tais como Casagrande e Zolin (2007) e Cheri Register (1989), a fim de refletir acerca dos aspectos tradicionais em volta dessas representações. Além disso, traçaremos um paralelo entre as pautas feministas brasileiras no período determinado, através das teorias de Daniela Manini (1995–96),Céli Pinto (2003), Joana Maria Pedro (2006,2012),Constância Duarte (2003), dentre outras. Concluímos que Nélida Piñon vislumbrou aspectos nebulosos da condição da mulher da sua época que seriam fortalecidos nas pautas do movimento feminista anos depois da publicação desses contos, exibindo sua contemporaneidade (Agamben2009) transfigurada em maestria literária.

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Publicado

31-07-2020

Como Citar

Vieira, D. C. P. (2020). A luta feminista no período ditatorial brasileiro: Representações da mulher em Ave de Paraíso e Colheita de Nélida Piñon. Diacrítica, 34(2), 203–220. https://doi.org/10.21814/diacritica.4990