Colóquio Internacional Literatura, Cinema, Banda desenhada
Em Nous, animaux et humains, Tristan Garcia defende que a conceção do humano que subjaz ao humanismo moderno está a atravessar uma crise profunda, operada por duas tendências de sinal contrário. Por um lado, uma tendência interna que fragmenta o «nós» humano em múltiplos «nós» comunitários (etnias, religiões, raças, géneros, orientações sexuais); e, por outro, uma tendência extensiva que alarga o círculo do «nós» às outras espécies animais e mesmo à totalidade do vivente.
Acresce o facto, não despiciendo, de ocorrer uma reformulação do humano por via do irrestrito triunfo tecno-digital. O mesmo é dizer, redefinem-se as fronteiras do humano em função de uma ressemantização do mundo a cargo da tecnologia. Neste sentido, o «nós» conecta-se, e de uma forma cada vez mais íntima e impercetível, com a tecnologia e os seus constantes (e inexoráveis, dirão alguns) devires.
Como se percebe sem custo, sobretudo se pensarmos no impressionante desenvolvimento, a título de exemplo, de realidades como a da Inteligência Artificial (IA), nunca fez tão sentido como hoje refletir não apenas em torno da questão do humano, mas também, e decerto sobretudo, em torno do pós-humano.