Chamadas

REVISTA 2i | ESTUDOS DE IDENTIDADE E INTERMEDIALIDADE

 

CHAMADA DE ARTIGOS — Nº 11 (2025) : FIGURAS E PERSONAGENS DO FANTÁSTICO: DO HORROR CLÁSSICO À PARÓDIA PÓS-MODERNA

Data limite para submissão de colaborações: 15 janeiro 2025
Editores: Xaquín Núñez, Alessandra Massoni e Teresa Ángeles

Apresentação

Monstros, vampiros, fantasmas, zombies, robôs, super-heróis constituem uma alargada e reconhecível galeria de figuras e personagens da literatura fantástica. A transgressão do real ou da verosimilhança que as narrativas do insólito propõem costuma apoiar-se nas distorções do espaço e/ou do tempo e ainda das personagens que representam a alteridade do humano. Refletem, como nos recorda o filósofo José Gil (2006), o que não somos, mas também o que poderíamos chegar a ser, e enunciam as nossas contradições, limitações e metamorfoses. Quer numa dimensão de perversão ou de aberração, quer numa idealização do super-homem, em que o bem é capaz de vencer o mal, as personagens fantásticas conseguem perturbar-nos pelo que têm tanto de próximas, como de inquietantes.

A narrativa fantástica, representada na literatura, no cinema, na televisão ou na banda desenhada, assentou numa tradição de figurações de personagens que propiciaram diversas reescritas, remakes, adaptações ou ainda homenagens. Desde a sua constituição, frequentemente associada ao terror, ao horror, ao enigmático ou ao thriller, a prática artística foi incorporando novos olhares que possibilitam uma atualização criativa adaptando o comportamento da personagem fantástica aos propósitos ideológicos ou culturais dos nossos dias. Dentro dos paradigmas da pós-modernidade, recursos como a paródia, no sentido desenvolvido por Linda Hutcheon (2001), o grotesco, o ridículo ou a ironia reforçam as capacidades performativas das criaturas fantásticas. E, como expõem Boccuti e Roas (2022), o binómio entre fantástico e humor, longe de responder a uma estética evasiva ou banal, apresenta uma profundidade ideológica e uma contundência expressiva que acrescentam recursos ao insólito e aos seus derivados de horror e terror.

Neste contexto teórico, o presente número temático da Revista 2i propõe-se analisar as continuidades e ruturas que a personagem do fantástico supõe para as políticas e poéticas da identidade contemporânea; estudar as estratégias narrativas que se levam a cabo para uma reatualização das figuras mais tradicionais e reconhecíveis da ficção insólita; refletir sobre as suas revisões e reescritas para adequá-las aos novos paradigmas culturais e às culturas específicas; ou ainda explorar criticamente as porosidades intermediais e as relações que se materializam entre produções literárias e audiovisuais.

Em definitivo, este número da Revista 2i convida a debater como são representadas as personagens e figuras do fantástico hoje, que estratégias são predominantes e o que nos dizem da(s) identidade(s) humana(s).

Possíveis tópicos de reflexão:

  • Materializações mediáticas da personagem fantástica: literatura, cinema, televisão, banda desenhada;
  • Reescritas das figuras do insólito;
  • Dimensões ideológicas do humor, da paródia e do grotesco na construção da personagem do fantástico;
  • Universos transmédia em obras ou mitos do fantástico;
  • Adaptações e atualizações das figuras e mitos da alteridade em universos culturais específicos.

 

CHAMADA DE ARTIGOS — Nº 10 (2024) : MULHERES E(M) REVOLUÇÃO: AUTORRETRATOS DE ESCRITORAS E ARTISTAS IBÉRICAS NO PÓS-DITADURAS

Data limite para submissão de colaborações: 15 junho 2024
Editores: Eunice Ribeiro e Bruno Marques

Apresentação

Durante os regimes de Salazar (1933-74) e de Franco (1939-75), a sexualidade feminina, assim como outras conceções de “sexualidade subalterna” (Guasch, 1997), foi objeto de diversas estratégias de silenciamento. Os modos como a subalternidade era invisibilizada, nomeada pela “negativa” e organizada pelo saber/poder dominantes (Foucault, 1975) retiraram-lhe voz e espaço próprio de representação. Este cenário começa a alterar-se no momento em que novas formas de autorrepresentação destas subjetividades (Chamouleau, 2018) começam a surgir a partir dos anos de transição democrática na Península Ibérica (Gaspar, 2018). Desde a década de 1970, as mulheres organizam-se em forma de ativismo pela libertação, emancipação e enunciação enquanto sujeitos de direito (Riggle; Tadlock, 1999). Essas atividades de resistência geraram subversões de linguagem e fórmulas alternativas de autoenunciação como estratégia combativa, constituindo uma rutura simbólica para com o antigo sistema de invisibilidade sistemática da subalternidade (Gaspar, 2018). Enquanto grupo entendido como minoria social — mesmo se demograficamente maioritário — subordinado ao heteropatriarcado, as mulheres criaram modos de representação próprios contra os sistemas que as discriminaram.

Focada nos tópicos da alteridade e diferença, a autorrepresentação contemporânea na literatura e na arte tem privilegiado questões relacionadas com a afirmação do género feminino e da diversidade sexual. Portugal e Espanha assumem-se, neste sentido, como casos de estudo congéneres dado que partilham um passado histórico recente muito similar — semiperiférico, católico, ditatorial, colonial. Impõe-se, neste sentido, proceder a uma análise comparativa entre os dois países ibéricos, com o objetivo maior de identificar criticamente estratégias tanto comuns como diversas de resistência e empoderamento.

No ano em que se comemora o cinquentenário da Revolução dos Cravos em Portugal, o presente número temático da Revista 2i propõe-se refletir sobre modalidades heterodoxas de autorretrato produzidas nos períodos das pós-ditaduras portuguesa e espanhola por escritoras e mulheres artistas ibéricas que a história da literatura e da arte frequentemente negligenciaram. Para além de acolher com regularidade tópicos da alteridade e da diferença, as mais recentes autorrepresentações de mulheres-autoras convocam com significativa frequência questões relacionadas com a assunção política do género sexual. A estreita ligação da autorrepresentação ao narcisismo e ao confessionalismo faz, por isso, do autorretrato uma via privilegiada para se aferirem mudanças mais ou menos profundas e decisivas ao nível dos costumes e mentalidades, com repercussões diretas no questionamento dos chamados gender roles vigentes num dado contexto sociocultural.

Eis, pois, a principal questão que este número da Revista 2i pretende debater: após os períodos coloniais e ditatoriais, de que modo o dispositivo do autorretrato foi renovado pela literatura e pela arte contemporânea ibérica produzida por mulheres, contribuindo para a emancipação das “subjetividades femininas” anteriormente subalternizadas, segregadas, discriminadas e estigmatizadas?

Aceitam-se contribuições que investiguem a produção autorretratística de escritoras e mulheres artistas ibéricas no pós-ditaduras, a partir dos possíveis tópicos de reflexão que a seguir se indicam.

Possíveis tópicos de reflexão:

  • Escrita e autoria;
  • Diário e narrativas do eu;
  • Corpo, sexualidade e amor;
  • Espelho e máscaras, encenação e travestimentos;
  • Estereótipos e convenções;
  • Liberdade e censura;
  • Memória e trauma;
  • Poder e política;
  • Voz e subjetividade.