Paratextos enquanto mediadores da tradução: O caso do prefácio à versão portuguesa de Robinson Crusoe (1940)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21814/diacritica.4851

Palavras-chave:

Paratextos, Mediação, Tradução, Estado Novo, Robinson Crusoe

Resumo

Os paratextos conferem maior visibilidade ao tradutor e constituem uma fonte de informação sobre as decisões por ele tomadas ao longo do processo tradutório. No Prefácio à tradução portuguesa de The Adventures of Robinson Crusoe, de Daniel Defoe, o tradutor, José Osório de Oliveira, elimina o prefácio original do autor e substitui-o por um outro, da sua autoria, no qual não só justifica as alterações feitas ao texto de partida, mas também sublinha o facto de ter sido um navio português, rumo ao Brasil, que salvara o protagonista da difícil situação em que se encontrava. O estudo aqui proposto visa discutir as razões pelas quais Osório de Oliveira decidiu conferir especial ênfase a este episódio, em detrimento de muitos outros decerto mais interessantes no contexto das aventuras do protagonista. A data da publicação da tradução – 1940 – e, portanto, do paratexto em causa, oferece, em grande medida, a resposta, pois a ideologia do Estado Novo então em vigor assentava, claramente, na exaltação dos Descobrimentos portugueses, promovendo, assim, uma política colonialista que lhe permitisse manter as chamadas “províncias ultramarinas”. Deste modo, procurar-se-á demonstrar em que medida o paratexto poderá ter mediado a edição e a receção da tradução, numa época em que os feitos dos grandes heróis do passado se identificavam com os navegadores lusos.

Referências

Álvarez, R., & Vidal, C.-Á. (1996). Translating: A political act. In ids., Translation, Power, Subversion (pp. 1–9). Multilingual Matter. DOI: https://doi.org/10.21832/9781800417915-002

Batchelor, K. (2018). Translation and paratexts. Routledge. DOI: https://doi.org/10.4324/9781351110112

Defoe, D. (1863). La vie et les aventures surprenantes de Robinson Crusoé. Contenant son retour dans son isle, ses autres nouveaux voyages, & ses réflexions. Hachette et Cie.

Defoe, D. (1965). Robinson Crusoe the life and strange surprising adventures of Robinson Crusoe of York, mariner: Who lived eight and twenty years, all alone in an un-inhabited island on the coast of America, near the mouth of the great river of Oroonoque; Having been cast on shore by shipwreck, where-in all the men perished but himself. With an account how he was at last as strangely deliver’d by pyrates. Written by himself. Penguin Books. [Original published in 1719]

Defoe, D. (1950) [s.d.]. A vida e as aventuras de Robinson Crusoé (J. P. Chagas, Trans.). Portugália.

Dimitrius, R. (2009). Translators’ prefaces as documentary sources for translation studies. Perspectives: Studies in Translatology, 3(17), 193–206. DOI: https://doi.org/10.1080/09076760903255304

Even-Zohar, I. (1998). The Position of translated literature within the literary polysystem. Translation Across Cultures. In G. Toury (Ed.), Translation across cultures (pp. 109–117). Bahri Publications. (original published in 1987)

Genette, G. (1997). Paratexts, thresholds of interpretation (J. E. Lewin, Trans.). Cambridge University Press.

Gürçağlar, Ş. T. (2018). Translated Texts/Paratexts. In L. D’Hulst & Y. Gambier (Eds.), A history of modern translation knowledge: Sources, concepts, effects (pp. 287–292). John Benjamin. DOI: https://doi.org/10.1075/btl.142.39gur

Instruções sobre literatura infantil. (1950). Direcção dos Serviços de Censura. Tipografia da Empresa Nacional de Publicidade.

Kovala, U. (1996). Translations, paratextual mediation, and ideological closure. Target, 1(8), 119–148. DOI: https://doi.org/10.1075/target.8.1.07kov

Martins, M. (1980). A imagem do homem português nas “Viagens de Gulliver”, em “Robinson Crusoe” e na “Utopia”.

Monteiro, M. G. da S. (2001). A recepção e a tradução de Robinson Crusoe em Portugal [Tese de Mestrado, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.] Repositório da Universidade de Lisboa.

Oliveira, J. O. de. (1940). Prefácio do tradutor. In Robinson Crusoe. ([pp. 1–4]). Colecção Azul. Editorial Progresso.

Rodrigues, A. B. (2006). Salazar e a educação. [n.ed.].

Terenas, G .G. (2008). Forbidden images of Portuguese Colonialism: A translation of a book by C.R. Boxer. In T. Seruya & M. L. Moniz (Eds.), Translation and censorship in different times and landscapes (pp. 30–46). Cambridge Scholars Publishing.

Terenas, G. G. (2009). French mediation, the construction of British images and the Portuguese press. In P. Coco & E. F. Coutinho (Eds.), Beyond binarisms. crossing and contaminations: Studies in comparative literature (pp. 161–170). Aeroplano Editora.

Terenas, G. G. (2017). Subversive notes: A politically oriented version of Moby Dick produced during the Salazar regime. In M. Ramalhete (Ed.), Translation, the canon and its discontents: Version and subversion (pp. 77–92). Cambridge Scholars Press. http://www.cambridgescholars.com/translation-the-canon-and-its-discontents

Toury, G. (1995). Descriptive translation studies and beyond. John Benjamins Publishing Company. DOI: https://doi.org/10.1075/btl.4

Tymoczko, M. (2000). Translation and political engagement: Activism, social change and the role of translation in geopolitical shifts. The Translator, 1(6), 23–47. DOI: https://doi.org/10.1080/13556509.2000.10799054

Yuste Frías, J. (2012). Paratextual elements in translation: Paratranslating titles in children’s literature. In A. Gil-Bardají, P. Orero, & S. Rovira-Esteva (Eds.), Translation peripheries – Paratextual elements in translation (pp. 117–134). Peter Lang.

Downloads

Publicado

31-01-2024

Como Citar

Gândara Terenas, G. (2024). Paratextos enquanto mediadores da tradução: O caso do prefácio à versão portuguesa de Robinson Crusoe (1940). Diacrítica, 37(3), 174–185. https://doi.org/10.21814/diacritica.4851