Oito vezes Jaime nasceu já cá

Prosopopeia e alteridade em 'Jaime' de António Reis

Autores

  • Raquel Morais Birkbeck, University of London

DOI:

https://doi.org/10.21814/2i.4091

Palavras-chave:

Alteridade, António Reis, Cinema Português, Jaime Fernandes, Margarida Cordeiro, Prosopopeia

Resumo

Neste artigo, proponho uma análise do filme Jaime (1974) a partir do conceito de prosopopeia, aqui lido como forma de atribuir vida a um morto e de falar através da sua voz. O ausente é Jaime Fernandes, cujos desenhos e escritos estão no centro desta obra, realizada por António Reis com assistência de Margarida Cordeiro. A partir da análise de algumas sequências, descrevo o filme como um movimento duplo: por um lado, a figura de Fernandes é conjurada através da mobilização de objectos e lugares associados à sua biografia, tornando o morto vivo e visível; por outro lado, o filme vai além da recuperação da memória daquele homem, e as evidências materiais da sua existência antes servem de veículo para vários dos interesses e temáticas que Reis e Cordeiro desenvolvem noutros filmes. De entre esses interesses, olho com maior detalhe para: a importância atribuída a modos de existência alheados do centro ou da norma; o questionamento acerca de formas possíveis de representação e preservação da realidade; o pensamento dos realizadores sobre cinema enquanto meio de expressão, pensamento e arquivo vivo; uma concepção do mundo em função de recorrências e retornos e da possibilidade de continuar a viver através dos outros.

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Publicado

2022-12-06

Como Citar

Morais, R. (2022). Oito vezes Jaime nasceu já cá: Prosopopeia e alteridade em ’Jaime’ de António Reis. Revista 2i: Estudos De Identidade E Intermedialidade, 4(6), 29–44. https://doi.org/10.21814/2i.4091