Intersubjetividade e linguagem no encontro clínico
Por uma teoria da comunicação em saúde
DOI:
https://doi.org/10.21814/2i.6450Palavras-chave:
Linguagem, Medicina, Comunicação em Saúde, Wilhelm von HumboldtResumo
A medicina tem como pressuposto teórico a construção de discursos eminentemente racionalistas e mecanicistas desvinculados da historicidade subjetiva própria de abordagens humanistas que se referem ao modo de vida ou à qualidade da existência. Este descompasso gerou, a partir do século XX, uma contracorrente que busca a “re-humanização” da medicina, mormente calcada na linguagem. Visto que o ponto fulcral da atividade médica é o encontro clínico, faz-se mister entender como a linguagem em sua atuação discursiva e o conhecimento racional e empírico se coadunam com o(s) sujeito(s) participante(s) dessa relação dialógica. Partiremos da crítica ao modelo kantiano que considera a linguagem como veículo (Humboldt), articulando-a à teoria do conhecimento e a aquisições teóricas recentes provenientes de uma matriz hermenêutico-fenomenológica de modo a criar uma cartografia das ciências médicas e de seus discursos associados. Essa abordagem permitirá não apenas esclarecer o papel da linguagem na medicina, mas também integrar outras áreas do conhecimento implicadas às práticas de saúde. Em última análise, esta caracterização pode abrir caminho a uma teoria geral da comunicação em saúde no intuito de promover uma compreensão mais profunda e um aprimoramento das interações entre os profissionais de saúde e os seus pacientes, tornando-as mais inclusivas e humanas.
Downloads
Referências
Barreto, M. D. S., Nascimento, D. G. D., Magini, L. Y. Z., Oliveira, I. L. D., Vieira, V. C. D. L., & Marcon, S. S. (2019). Discourse of nurses and doctors on the use of the emergency service by immigrants. Esc. Anna Nery, 23(2), e20180266.
Beisecker, A. E. (1990). Patient power in doctor-patient communication: What do we know? Health Communication, 2(2), 105–122.
Carel, H. (2016). Phenomenology of illness. Oxford University Press.
Carelli, F. B., Lens, A. F., Oliveira, A. C. C. A., Santos, A. C., Reis, M., & Pompilio, C. E. (2013). Hidra de duas cabeças: Configuração ricoeuriana e narrador impuro numa narrativa do HC-FMUSP. Revista Internacional de Humanidades Médicas, 2(2), 15–38.
Charon, R. (2006). Narrative medicine: Honoring the stories of illness. Oxford University Press.
Cocks N, Dipper L, Middleton R, Morgan G. What can iconic gestures tell us about the language system? A case of conduction aphasia. Int J Lang Commun Disord. 2011 Jul-Aug;46(4):423-36.
Derrida, J. (1998). Los fines del hombre. In Márgenes de la filosofía (C. González Marín, Trans., pp. 145–174). Cátedra.
Descartes, R. (1999). Meditações sobre filosofia primeira (F. Castilho, Trans.). Cemodecon – IFCH-Unicamp. (Original work published 1641).
Dipper L, Pritchard M, Morgan G, Cocks N. The language-gesture connection: Evidence from aphasia. Clin Linguist Phon. 2015;29(8-10):748-63.
Foucault, M. (2001). The order of things (2nd ed.). Routledge.
Frank, A. W. (1995). The wounded storyteller: Body, illness, and ethics. University of Chi-cago Press.
Heath, C. (1992). The delivery and reception of diagnosis in general-practice consultation. In P. Drew & J. Heritage (Eds.), Talk at work: Interaction in institutional settings (pp. 235–267). Cambridge University Press.
Heidegger, M., Stambaugh, J., & Schmidt, D. J. (2010). Being and time. State University of New York Press.
Hofmann, B. (2002). On the triad disease, illness and sickness. The Journal of Medicine and Philosophy, 27(6), 651–673.
Humboldt, W. von. (1990). Sobre la diversidad de la estructura del lenguaje humano y su influencia sobre el desarrollo espiritual de la humanidad (A. Agud, Trans. & Intro.). Anthropos.
Hurwitz, B. Bates V. (2016). The Roots and Ramifications of Narrative in Modern Medi-cine. In: Whitehead A WA, Atkinson S, et al., editors, editor. The Edinburgh Com-panion to the Critical Medical Humanities. Edinburgh (UK): Edinburgh University Press.
Husserl, E. (2001). Logical investigations (Vol. II, J. N. Findlay, Trans.; D. Moran, Ed.). Routledge. (Original work published 1901)
Hydén, L. C., & Mishler, E. G. (1999). Language and medicine. Annual Review of Applied Linguistics, 19, 174–192.
Kant, I. (1998). Crítica da razão pura (M. P. dos Santos, Trans.; A. F. Morujão, Intro. & Notes). Fundação Calouste Gulbenkian. (Original work published 1781)
Kleinman, A. (1988). The illness narratives: Suffering, healing, and the human condition. Basic Books.
Lacan, J. (1972). Du discours psychanalytique. In G. B. Contri (Ed.), Lacan in Italia 1953–1978. En Italie Lacan (pp. 32–55). La Salamandra.
Lafont, C. (1999). The linguistic turn in hermeneutic philosophy (J. Medina, Trans.). MIT Press.
Maynard, D. W. (1991). The perspective-display series and the delivery and receipt of diagnostic news. In D. Boden & D. H. Zimmerman (Eds.), Talk and social structure: Studies in ethnomethodology and conversation analysis (pp. 164–192). Polity Press.
Mishler, E. G. (1984). The discourse of medicine: Dialectics of medical interviews. Ablex.
Nietzsche, F. (1997). Daybreak: Thoughts on the prejudices of morality (R. J. Hollingdale, Trans.; M. Clark & B. Leiter, Eds.). Cambridge University Press.
Nordenfelt, L. (1994). On the disease, illness and sickness distinction: A commentary on Andrew Twaddle’s system of concepts. In A. Twaddle & L. Nordenfelt (Eds.), Dis-ease, illness and sickness: Three central concepts in the theory of health (pp. 19–36). Linköping: Studies on Health and Society, 18.
Ong, L. M. L., De Haes, J. C. J. M., Hoos, A. M., & Lammes, F. B. (1995). Doctor-patient communication: A review of the literature. Social Science & Medicine, 40(7), 903–918.
Pompilio, C. E. (2016). Comunicação em saúde: Habermas e Lévinas no consultório. Via Atlântica, 17(1), 51–77. https://doi.org/10.11606/va.v0i17.108322
Pompilio, C. E., & Caputo, E. (2022). Linguagem, saúde e doença em Bartleby, o escriturá-rio de Herman Melville. Revista Metalinguagens, 9(1), 25–42.
Segatto, A. I. (2009). Sobre pensamento e linguagem: Wilhelm von Humboldt. Trans/Form/Ação, 32(1), 193–198.
ten Have, P. (1991). Talk and institution: A reconsideration of the “asymmetry” of doctor-patient interaction. In D. Boden & D. H. Zimmerman (Eds.), Talk and social struc-ture: Studies in ethnomethodology and conversation analysis (pp. 138–163). Polity Press.
Twaddle, A. (1968). Influence and illness: Definitions and definers of illness behavior among older males in Providence, Rhode Island (Doctoral dissertation). Brown Uni-versity.
Twaddle, A. (1994). Disease, illness and sickness revisited. In A. Twaddle & L. Norden-felt (Eds.), Disease, illness and sickness: Three central concepts in the theory of health (pp. 1–18). Linköping: Studies on Health and Society.
Viola, T. (2011). Philosophy and the second person: Peirce, Humboldt, Benveniste, and personal pronouns as universals of communication. Transactions of the Charles S. Peirce Society, 47(4), 389–413.
Wittgenstein, L. (1958). Philosophical investigations (G. E. M. Anscombe, Trans.). Basil Blackwell.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2025 Carlos Eduardo Pompilio, Elieni Caputo, Hélio Plaper
Este trabalho encontra-se publicado com a Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0.
.jpg)
