O parangolé após as experiências: ressignificação de ritos e participação em vanguardas brasileiras

Autores

  • Matteo Gigante Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias (CLEPUL), Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal https://orcid.org/0000-0002-0644-1478

DOI:

https://doi.org/10.21814/diacritica.5797

Palavras-chave:

Literatura brasileira, Estudos Interartes, Modernismo Brasileiro, Tropicalismo, Flávio de Carvalho, Hélio Oiticica

Resumo

Ao observar exemplos de participação do público na cocriação de iniciativas culturais, artistas como o modernista Flávio de Carvalho, com as suas Experiências, e Hélio Oiticica (HO), com os seus Parangolés mostram expressões do que chamaremos ‘arte do acontecimento’. Apelando à participação ativa do público a arte conjuga-se de forma inesperada, orientando-se na incerteza de cada instante, aproveitando da cultura popular e da ressignificação de elementos religiosos para a desconstrução de dogmas. Assim, analisando o texto que narra a Experiência nº 2, bem como como a Experiência nº 3, observamos como alguns dos pressupostos intelectuais deste modernista heterodoxo influenciarão o projeto estético e ideológico tropicalista de HO. Neste sentido, através de alguns Parangolés e do heliotexto “O herói anti-herói e o anti-herói anônimo” (1968), analisaremos estas obras numa perspetiva literária, interpretando as subjacentes leituras decoloniais do cenário cultural brasileiro. A marginalidade e as turbulências mentais junto ao questionamento da violência hegemónica e contra-hegemónica serão elementos inspiradores de obras que, reivindicando a participação de categorias oprimidas, permitem planear a desconstrução de mitos e ritos da civilização eurocêntrica.

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Publicado

28-12-2024

Como Citar

Gigante, M. (2024). O parangolé após as experiências: ressignificação de ritos e participação em vanguardas brasileiras. Diacrítica, 38(3), 62–82. https://doi.org/10.21814/diacritica.5797

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Artigos Temáticos

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