'Quanto mais histórias, mais novelos' ou os fios de outra Xerazade Sobre narrar os trânsitos migrantes e a condição exílica de voluntários e refugiados em 'Um muro no meio do caminho', de Julieta Monginho

Autores

  • Jorge Vicente Valentim

DOI:

https://doi.org/10.21814/diacritica.667

Palavras-chave:

Xerazade, Refugiados, Trânsito migrante, Condição exílica, Ficção portuguesa contemporânea, Julieta Monginho

Resumo

A partir da percepção do gesto de narrar, enquanto exercício afirmativo de uma ação bem ao gosto da personagem-narradora Xerazade, tal como postulado por Isabel Pires de Lima (2012), pretende-se, nesse artigo, refletir sobre os trânsitos mobilizados na tessitura narrativa do romance de Julieta Monginho, Um muro no meio do caminho (2018). Assim, se, por um lado, a narradora-protagonista J. desloca-se para a Grécia para desempenhar uma atividade humanitária, é essa mobilidade que a faz encontrar outros sujeitos em um trânsito forçado: os refugiados.  Ao resgatar cada figura em Chios, J. configura-se como uma autêntica Xerazade, num duplo movimento de contar as histórias (Benjamin, 1985). Enquanto voluntária, ela própria se coloca numa condição movente, ao mesmo tempo, que, como ouvinte das narrativas dos refugiados, capta a condição exílica a que são expostos (Nouss, 2016). Nas duas feições (voluntários e refugiados), as personagens entrecruzam suas histórias, com seus problemas e suas complexidades, permitindo-se vislumbrar, enquanto figuras de movimento (Ette, 2016). Sem cair, no entanto, na armadilha de apontar soluções fáceis, este exercício de uma Xerazade inquieta chama mais a atenção para um questionamento constante do problema, justamente porque narra para que ele não desapareça e não sucumba diante da indiferença.

 

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Publicado

05-01-2022

Como Citar

Valentim, J. V. (2022). ’Quanto mais histórias, mais novelos’ ou os fios de outra Xerazade Sobre narrar os trânsitos migrantes e a condição exílica de voluntários e refugiados em ’Um muro no meio do caminho’, de Julieta Monginho. Diacrítica, 35(3), 55–73. https://doi.org/10.21814/diacritica.667