Uma quinta que fosse só sua: sobre a cidade e as serras
DOI:
https://doi.org/10.21814/diacritica.186Palavras-chave:
Eça de Queirós, A Cidade e as Serras, PragmatismoResumo
A Cidade e as Serras, romance póstumo de Eça de Queirós, é um dos livros que mais controvérsia tem gerado na crítica especializada, que não consegue decidir-se sobre o tipo de ideias e de argumentos que nele se defendem, nem sobre as razões pelas quais se justifica voltarmos a examinar a história de Jacinto. Qualificado por uns, que na história do milionário que troca a Civilização pela Natureza, assim encontrando o sentido para a vida que em Paris lhe faltava, reconhecem o ponto mais alto da imaginação irónica de Eça e a esperança de um humanista que se empenhou em combater a injustiça económica e social, e desqualificado por outros, que o veem como a prova da decadência de Eça, que, abandonando os desígnios de transformação da sociedade que marcaram a sua carreira de escritor realista, traía a sua personalidade literária e nos oferecia, na última fase da obra, a apologia de um Portugal reacionário e tradicionalista. Apesar das diferenças entre os vários juízos críticos, todos nos dizem que A Cidade e as Serras corresponde ao espelho da relação que Eça mantinha com Portugal e, em sentido lato, com o Mundo Moderno. Mudando os termos da discussão, neste ensaio procuro mostrar o que acontece se resistirmos à tentação de explicar uma abstração como ‘Tormes’ nos termos de uma imagem de Portugal e dos portugueses. Concluirei argumentando que, se quisermos encontrar na lição exemplar de Jacinto um conjunto de sugestões ainda úteis acerca de como viver uma vida boa e gratificante, devemos ver a sua opção por Tormes como contingencial, privada e temporária, não como uma solução permanente e comunitária para o tédio moderno.
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